Precisamos pensar a Umbanda com cabeça umbandista
Por Alexandre Cumino
Isto quer dizer: pensar a nossa própria realidade a partir da Umbanda e pensar a Umbanda por meio de uma realidade umbandista, e desta forma alcançar uma visão de mundo umbandista, que é algo urgente para a sobrevivência e independência de nossa religião. Para tanto, é necessário uma Teologia de Umbanda livre, acessível, autêntica e original. Caso contrário, continuaremos copiando e repetindo conceitos e valores alheios à Umbanda.
Apenas por meio de uma cultura umbandista, poderemos criar as condições de dignidade e orgulho de ser umbandista. Esta cultura umbandista é uma interpretação autêntica de toda esta realidade que lhe deu formação, como a base de uma unidade: A Umbanda. A unidade da Umbanda é o denominador comum para a sua própria diversidade. Esta diversidade é válida enquanto não coloca em risco a sua unidade.
Podemos absorver um pouco de todas as religiões e culturas que deram formação à Umbanda, de forma diversa, e ainda assim pensar a Umbanda a partir da Umbanda, de forma una e única. Este olhar é o que parte da unidade para a diversidade, de dentro para fora.
Se continuarmos pensando o mundo de uma forma espírita, católica ou candomblecista a Umbanda continuará em segundo plano como, apenas, uma prática mediúnica, “mediunismo”, e não como a religião que é de fato e de direito.
Esta tomada de posição é necessária para que a Umbanda seja respeitada como religião. Sabemos que a Umbanda é uma religião, repito, de fato e de direito, no entanto, que religião é esta que continua pensando e interpretando o mundo, a vida e a si mesma por meio de outras religiões? Não existe segurança doutrinária, teológica ou racional para o praticante que desconhece os fundamentos de sua própria religião.
Somos Umbandistas
Não somos candomblecistas, não somos espíritas e nem católicos. Pode parecer uma bobagem esta afirmação, no entanto, é muito raro quem pense a Umbanda a partir de um ponto de vista neutro, independente e autônomo com relação a outras religiões. Não foram poucos os umbandistas que, inseguros de sua prática, foram procurar em seara alheia a segurança que lhe faltava e assim passaram a ter uma visão híbrida ou distorcida dos fundamentos da Umbanda.
Desta forma, uma parte dos umbandistas tornou-se praticante do Candomblé, na intenção, por exemplo, de entender melhor os Orixás ou conhecer seus “reais” fundamentos. No entanto, o Candomblé é uma religião diferente, que possui fundamentos diferentes e até conflitantes com os fundamentos da Umbanda. A forma de conhecer e se relacionar com os Orixás no Candomblé é diferente da Umbanda. O Candomblé não explica a Umbanda!
Outra parte dos umbandistas procurou o espiritismo, por exemplo, para explicar a manifestação dos espíritos na Umbanda. No entanto, a Umbanda tem uma forma própria e única de se relacionar com os espíritos. Na Umbanda, os espíritos se manifestam em linhas de trabalho por meio de arquétipos, utilizando recursos simbólicos e elementos de magia, o quê, além de não ser utilizado no espiritismo, é por ele refutado como atraso espiritual, infantilidade e apego as coisas da matéria. O que não é uma verdade para a Umbanda, na qual os elementos e a magia, largamente utilizados, são recursos adicionais e não vícios ou apego. O Espiritismo não explica a Umbanda!
Quanto ao Catolicismo, ele é totalmente contrário a todas as nossas práticas e à nossa visão de mundo. O que temos em comum é a veneração e o amor aos santos católicos, bem como os rituais de batismo, casamento e ato fúnebre. Ainda assim, na Umbanda, os elementos católicos se revestem de novas cores e novos significados. O Catolicismo não explica a Umbanda!
O ocultismo europeu também não explica a Umbanda, nem o esoterismo ou o new age, muito menos a sociologia, antropologia, filosofia ou psicologia. Estas ciências podem estudar e especular a Umbanda, podem sondar nossos rituais e analisar o perfil dos adeptos, mas não podem explicá-la. Elas devem, sim, ouvi-la por meio de seus adeptos.
Diga-se de passagem, as Igrejas Evangélicas, Pentecostais e Neopentecostais também não explicam a Umbanda. Evangélicos, adeptos, pastores, bispos, profetas e missionários, mesmo que sejam ex-umbandistas, não podem e não devem explicar a Umbanda.
Praticantes e adeptos de outras religiões não explicam e não devem tentar explicar a Umbanda! Quando se arvoram em tal empreitada só criam mais confusão, porque sempre estarão explicando algo a partir da sua visão de mundo, que não é a visão umbandista. Falam de Umbanda partindo do olhar da sua religião, alheia e diferente da Umbanda! E como resultado, apresentam algo que só existe em suas cabeças, teorias distorcidas, reduzidas, resumidas e, quando não, preconceituosas, demonizadas e discriminadoras.
Apenas o umbandista pode explicar o que é Umbanda, no entanto, devemos nos perguntar: este umbandista está pronto ou preparado para explicar a Umbanda?
O umbandista é o único que está vivendo a Umbanda e passando por uma experiência profunda e complexa, que é o convívio ou o exercício do transe mediúnico, aliado a toda uma ritualística muito rica. Levam-se anos para ganhar profundidade neste imenso universo cultural e religioso de Umbanda e, ainda assim, esta profundidade prática e teórica só chega aos umbandistas que estão interessados em ir mais fundo dentro da religião. O umbandista precisa de muito estudo para compreender e colaborar em apresentar a Umbanda para a sociedade de uma forma simples, transparente e direta. Praticar Umbanda às cegas ou de forma superficial não é bom para si, nem para a Umbanda e muito menos para a sociedade.
Mesmo que se queira ter esta profundidade e encontrar um caminho para a compreensão dos fundamentos da Umbanda, é preciso saber por onde começar para chegar ao ponto de pensar a Umbanda com uma mente umbandista.
Dificuldades em esvaziar o copo
Há um conto Zen em que um grande mestre recebeu a visita de um professor de filosofia, afirmando que queria ser seu discípulo. E o candidato a aprendiz não parava de falar de sua própria filosofia. O mestre, que lhe oferecia uma xícara de chá, encheu a xícara e continuou a despejar o chá, que agora transbordava e escorria ao chão. Quando o falante aprendiz lhe questionou o por que daquele gesto, então o mestre lhe explicou que, para receber algo de novo, era preciso, antes, esvaziar a xícara.
Ainda que não frequentem mais outras religiões, ou que assumam uma identidade umbandista, a grande maioria dos umbandistas veio do espiritismo ou do catolicismo e não consegue abandonar sua antiga visão de mundo. Não conseguem se esvaziar para receber algo novo. Embora seja um equívoco, isto é muito compreensível, pois no espiritismo e no catolicismo, durante anos, lhe foi apresentada uma forma racional e fundamentada de como pensar a realidade. Agora, estes ex-católicos e ex-espíritas estão se tornando umbandistas, num processo lento. No entanto, na grande maioria dos casos, ainda não lhes foi apresentado, na Umbanda, uma forma umbandista de pensar a Umbanda, a vida e a realidade que nos cerca. Assim, de certa forma, eles continuam meio espíritas ou meio católicos. E como resultado, cada um vai pensando o que quer e vai trazendo para a Umbanda dogmas e paradigmas destas mesmas searas alheias que já não lhes servem mais e que em nada ajudam a entender a Umbanda.
Por falta de uma explicação umbandista, única e original, de compreender a realidade de cada um e o mundo que nos cerca, continuam todos com suas velhas explicações, antigas teorias e doutrinas, algumas delas, inclusive como já citamos antes, muitas vezes, contrárias aos fundamentos da Umbanda.
São praticantes de Umbanda que ainda têm medo do pecado católico, que levam seus próprios filhos para se batizar numa Igreja e que ainda pensam Deus de uma forma católica ou espírita, da mesma forma que pensavam antes de se tornarem umbandistas. Para estes, a Umbanda não é uma verdade profunda e muito menos uma fé fundamentada em si mesma.
Nós somos umbandistas! Não somos católicos, não somos espíritas e não somos candomblecistas. Então se faz necessário pensar a Umbanda a partir da Umbanda. Pensar a Umbanda com cabeça de umbandista e não com cabeça de católico e nem com cabeça de espírita. Somos gratos às contribuições do cristianismo e do espiritismo, assim como de outras tradições, na formação da religião de Umbanda. No entanto, carecemos demais de uma forma autêntica de pensar a nossa religião.
Qual é a nossa forma de pensar o sagrado?
Se não apresentarmos à sociedade nossa visão de mundo, nunca seremos respeitados. Se não mostrarmos que sabemos quais são os fundamentos de nossa religião seremos tratados como ignorantes. E os fundamentos de nossa religião não são segredos! Muitos desconhecem até mesmo a História da Umbanda, não sabem quem foi o primeiro Umbandista e como ela foi idealizada na matéria. Não há como conquistar respeito para si ou para a Umbanda, se não há uma cultura umbandista a cerca de quais são os nossos valores e nossa visão de mundo.
A Umbanda se encontra hoje em um ponto de amadurecimento em que é preciso encontrar a sua visão de mundo. Isto é algo que todas as religiões mais antigas já passaram. Todas as religiões beberam do conhecimento e sabedoria de outras religiões em sua formação e, com o tempo, foram desenvolvendo e encontrando a sua própria teologia, sua própria visão de mundo e de si mesma.
Uma Teologia Umbandista Original
As religiões nascem principalmente de revelações, como as de Cristo ou Buda, por exemplo. Depois do desencarne do mestre, seus discípulos mais próximos se entregam na árdua tarefa de registrar o máximo de lembranças que cada um tem da vida e das palavras do Mestre. Assim foi com os apóstolos de Cristo e discípulos de Buda. No inicio de todas as religiões, ainda há divergências com relação a uma forma autêntica de se pensar a realidade. Para muitos apóstolos e discípulos, o cristianismo era uma forma de judaísmo e, antes de ser cristão, era preciso ser judeu. São Paulo fez um grande trabalho para que todos pudessem ser cristãos, independente de serem judeus, e para isso teve que começar a pensar o cristianismo de forma autônoma. Com o passar dos séculos, houve a estruturação da Igreja Católica Romana e, então, a fé daquele grupo original de judeus passou a nortear uma religião em solo Greco-romano e, claro, tão sincrética quanto a grande maioria das outras religiões no momento de sua estruturação.
Santo Agostinho é o primeiro teólogo a produzir vasto material teológico com base na obra de um filósofo grego, Platão. Tempos depois, Tomás que Aquino vai apresentar a sua Suma Teológica, um dos mais importantes e completos tratados da Teologia Católica fundamentado na obra de outro grande filósofo, Aristóteles. Agostinho prega a Teologia da Revelação (da Fé), enquanto Aquino prega a Teologia Natural (da Razão). Ambas as formas de pensar a religião, ambas as teologias, se completam e fundamentam a fé católica. Assim, a exemplo destes dois expoentes da teologia católica, a Igreja foi aos poucos mostrando ao mundo qual é a forma católica de pensar o mundo e o catolicismo.
Na Umbanda, hoje, por meio da obra e da mediunidade de Rubens Saraceni, temos a grata oportunidade de ver um rico material teológico autenticamente umbandista.
Nos seus mais de cinquenta títulos psicografados e publicados, Rubens Saraceni já vem apresentando os fundamentos da religião de Umbanda Sagrada. E agora, o conteúdo deste volume nos parece chegar como um amadurecimento de sua própria obra. Mais uma vez, vamos constatar que tudo tem a hora certa para acontecer. Eis que está em nossas mãos todo um conjunto de conhecimentos e fundamentos para pensar Olorum e os Orixás com uma visão totalmente umbandista.
Eu recebo este livro como um presente do astral superior e como uma oportunidade única de beber nesta fonte fecunda que é a mediunidade deste Mestre, que tem como missão a arte de revelar os fundamentos de nossa religião. Sim, a obra de Rubens Saraceni é uma revelação que vem do astral, não apenas por se tratar de obra psicografada, mas por trazer a fundamentação de conceitos básicos e chaves para a construção de uma teologia livre, autêntica e legítima umbandista.
Perante o estudo de Teologia Comparada das Religiões e das Ciências da Religião, vemos surgir pela mediunidade de Rubens Saraceni uma Teologia de Umbanda Sagrada que tem tanto um perfil de Teologia de Revelação Umbandista, quanto de Teologia Natural Umbandista.
A obra de Rubens Saraceni, ou melhor, dos mentores que se manifestam por meio de sua mediunidade, ora nos lembra as revelações do Pseudo Dionísio Areopagita (por exemplo, ao revelar a estrutura da realidade de Olorum e dos Orixás), ora nos lembra a obra de Santo Agostinho (detalhando o mundo astral como a nossa Cidade de Deus) e ora nos lembra a obra de Tomás de Aquino (pelo uso constante da razão e do detalhamento com que trata cada tema e assunto da Umbanda).
Temos aqui uma Teologia de Umbanda que identificamos como Teologia de Umbanda Sagrada, a qual, é importante que se diga, propõe que toda a Umbanda seja sagrada, pois não há uma Umbanda Sagrada e outra Profana. Utilizar o termo Umbanda Sagrada é uma homenagem e referência ao mentor espiritual de boa parte desta Teologia, o Preto velho Pai Benedito de Aruanda, que sempre se refere à Umbanda, toda Ela, como Umbanda Sagrada.
Aqui está um ponto de partida para pensar a Umbanda com cabeça de Umbandista. Todas as teologias, de todas as religiões, começam pelo estudo de Deus e pelas teologias da revelação, para depois buscar outras formas de teologia. Estamos presenciando a construção de uma Teologia de Umbanda Original, Inspirada e Única.
A nossa Teologia vem do astral por meio da mediunidade e dos mentores de Umbanda. Por isso é uma Teologia Revelada, livre e espontânea. Por isso esta teologia não segue um método ou uma estrutura acadêmica, por exemplo; segue muito mais a liberdade e espontaneidade presente em todas as revelações, como textos sagrados das demais religiões.
Esta Teologia segue uma vertente popular, uma linguagem simples, fácil e acessível. Esta é uma Teologia para quem quer entender a Umbanda em seus fundamentos básicos que ainda estão sendo explicados à luz da Umbanda. Para nós, isto é o mais importante: receber do astral as explicações da Umbanda à luz da Umbanda. Ou seja a Umbanda explica a Umbanda!
Uma Obra Autêntica
Entre tantas revelações sobre Olorum e os Orixás presentes neste livro, exalto aqui a forma autêntica de pensar a criação, com um olhar inédito, um olhar umbandista. É muito esclarecedora a explicação que apresenta o Todo a partir do lado interno e do lado externo da criação. O lado interno, totalmente desconhecido, é o lado interno de Olorum, já o lado externo é sua exteriorização por meio das realidades divina, natural e espiritual. Estas realidades são presentes nos sete planos da vida, em suas múltiplas dimensões.
Só esta forma de pensar o universo e a criação já nos apresenta chaves de interpretação que nos permitem um olhar que privilegia e explica a presença de Olorum e dos Orixás no início de tudo. E o que nos surpreende é a riqueza de detalhes e informação com que o autor espiritual vai explicando e desdobrando questões pertinentes à Criação. De forma minuciosa, vamos passando a ter uma visão umbandista sobre Olorum e os Orixás Originais. Sim, uma visão umbandista!
A Umbanda explica a Umbanda
Quem explica a Umbanda são os umbandistas e ponto final. Tanto os guias espirituais, quanto os praticantes, podem e devem explicar a Umbanda. No entanto, o umbandista precisa se preparar para tal empreitada. Se preparar dentro da Umbanda e não fora dela!
Todas as religiões são boas. “A melhor religião é aquela que faz de você uma pessoa melhor”. Seguir uma religião e sua verdade é uma escolha. Você pode receber este material como uma revelação da Umbanda para os umbandistas, ou pode continuar pensando e crendo por meio dos valores de outras religiões. A escolha é sua, sempre. Por isso, a Umbanda é uma religião tão livre, nossos mentores nos oferecem o que há de melhor para nossas vidas, ainda assim, a escolha de pegar estas sementes é sempre nossa.
Aproveite cada gota deste néctar, receba e plante estas sementes, adube com amor e cresça junto com a Umbanda Sagrada.
Alexandre Cumino é Cientista da Religião Bacharelado pela UNICLAR, Teólogo por livre formação, Sacerdote de Umbanda preparado por Rubens Saraceni e responsável pelo Colégio de Umbanda Sagrada Pena Branca.
Olá, sou Anna Pon, autora deste blog.
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