Ervas de Poder
Ervas de Poder
Por Alexandre Cumino
Nas culturas primeiras, aborígines, também chamadas, pejorativamente, de primitivas, encontramos largamente o uso de plantas alucinógenas. No entanto, para o aborígine (o índio ou xamã), geralmente essas plantas, aqui identificadas como ervas, são consideradas “enteógenas”, ou seja, ervas que propiciam um encontro com o sagrado.
O uso dessas ervas geralmente é feito dentro de uma esfera ritualística, envolta por seus dogmas e tabus. Geralmente há nas tribos indígenas uma espécie de sacerdote que cuida da parte espiritual e medicinal da comunidade, que em nossas tradições é chamado de Pajé, também considerado um xamã (palavra siberiana para identificar o indivíduo que adentra a dimensão do sagrado por meio de técnicas de transe).
As ervas “enteógenas” são também chamadas ervas de poder, ou seja, aquelas que dão ao xamã a condição de, em contato com o sagrado, ir além desta esfera material, palpável e tangível; transcendendo o mundo material. Assim, entram em contato com as forças da natureza, com os espíritos da natureza, com o espírito da erva, com os espíritos ancestrais, com os deuses, ou simplesmente adquirem uma percepção mais aguçada e abrangente desta realidade que nos cerca. Vendo o mundo de outra ótica, em que podem enxergar melhor os males que afligem a tribo ou um doente na tribo. Buscam em outra esfera, do sagrado, respostas que possam auxiliar (curar) o grupo ou um indivíduo. Saindo de si mesmo também se tornam grandes conselheiros, tendo a oportunidade de vencer o egocentrismo para entender o outro em suas dores, angústias e frustrações.
Estas ervas são consideradas sagradas pelos xamãs, costumam dizer que a profanação do sagrado pode trazer dor à sociedade. Hoje essas ervas sagradas são comercializadas pelo homem moderno e pós-moderno como drogas e entorpecentes, que causam, na maioria das vezes, a dependência. Não se busca o sagrado, mas apenas fugir da realidade ou um pequeno prazer momentâneo. Toda a cultura ancestral, dos que descobriram o uso sagrado destas plantas, é descaracterizada, e mesmo eles que têm tanto respeito pela vida e pela harmonia da estrutura social são mal vistos pelo homem dito civilizado, que deturpou e profanou um dos elementos sagrados de sua cultura.
E foi assim que a folha da coca, sagrada nas culturas andinas, foi profanada e manufaturada na produção de cocaína. A Canabis Ativa, vulgarmente conhecida como maconha, é erva sagrada para a religião Rastafari da Jamaica. O Fumo, tabaco, era sagrado para os índios das três Américas, o Europeu o descobriu, comercializou e fez dele um dos maiores males que afligem a sociedade. Na Amazônia, a Ayauaska (Daime) é uma planta sagrada de poder, assim como o Peiote na América Central e do Norte.
Ainda existem tribos onde a figura do xamã é presente, como na Cariri Choco, brasileira, onde o Pajé faz uso da planta da Jurema como erva de poder. No entanto, há religiões que sincretizaram as ervas de poder e xamanismo com outras culturas e religiões fazendo nascer novas “igrejas”, onde, por exemplo, o cristianismo caminha lado a lado com as ervas de poder. E este é o caso, por exemplo, do Santo Daime no Amazonas que faz uso da Ayauaska, agora chamada de Daime, como erva de Poder ao lado de uma doutrina de influência cristã. O Catimbó do Pernambuco usa a bebida da Jurema também num contexto de sincretismo com o cristianismo. Da mesma forma, nos EUA existe o Peiotismo, no qual a presença do peiote de uso ancestral indígena convive com valores cristãos.
O Peiotismo tem uma ligação forte com a Gost Dance, que é de fato uma religião de oprimidos, dos índios Norte Americanos, destacando o Chefe Siux Touro Sentado, que buscavam, através de um movimento profético, vencer os brancos conquistadores.
Quanah Parquer, fundador da Religião Americana do Peiote.
P.S.1: O Peiotismo surgiu em torno de 1880 em Oklahoma, com a presença das tribos Comanche e Kiowas, numa condição de opressão dentro das reservas indígenas. Da mesma forma, surgiu a Gost Dance. Seu fundador foi Quanah Parker, um Chefe Comanche. O Peiotismo ainda sobrevive na “Igreja Americana Nativa”, “Religião "oficial" de pelo menos 70 tribos indígenas nos Estados Unidos. "A Igreja Nativa Americana é
essencialmente uma doutrina oral, não há livros sagrados", diz Pablo Alarcón-Cháires, pesquisador da Universidade Autônoma do México e um dos cerca de 300 mil membros da igreja.
P.S.2: O Tabaco também é uma erva de poder usada largamente e que se faz presente na Umbanda justamente por suas qualidades como tal. Logo, Charuto, cachimbo e cigarro têm uso ritualístico e mágico, nada têm a ver com apego à matéria ou vício. As entidades não a fumam, manipulam o fumo, seja para uma defumação direcionada, um descarrego, limpeza ou oferenda.
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Muito obrigada pelo esclarecimento. Gratidão!
ResponderExcluirMuito bom o texto! Obrigado! Estou fazendo um estudo sobre as ervas de poder para elaboração de apostila para o Templo Umbandista que trabalho e esse texto do Alexandre Cumino é enriquecedor!
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