O que é Umbanda? Os primeiros estudos sobre Umbanda (continuação)
O que é Umbanda? Os primeiros estudos sobre Umbanda (continuação)
Depois de Arthur Ramos, um pesquisador: Edson Carneiro, em 1948, escreveu o livro “Candomblés da Bahia”.
Edson Carneiro dedica um capítulo do seu livro só para a Umbanda, o capítulo final de uma segunda edição ele coloca um adendo ali sobre Umbanda para dizer que:
“Umbanda é sincretismo religioso”.
Mais tarde, aqui no Brasil e em São Paulo é fundada a Universidade de São Paulo, a USP.
Para que a USP fosse fundada, e criados os cursos de Sociologia e alguns outros cursos, vieram os doutores e mestres de uma comunidade Francesa para ajudar a criar essas cadeiras dentro da USP.
Entre os estudiosos das religiões que vieram ao Brasil podemos citar Roger Bastide.
Francês, Roger se encanta pelo Candomblé, mesmo porque já estivera na África, estudando os cultos e conheceu, em terras africanas, Pierre Verge que também estudava a religiosidade afro brasileira e africana.
Roger Bastide, nas décadas de 50 e 60, aqui no Brasil, toma conhecimento sobre a Umbanda, mas não se interessa por ela, pois não consegue entender seu ritual.
O interesse maior dele é Culto de Nação e Candomblé, mas ele faz um estudo sobre a religiosidade do negro brasileiro, um estudo sobre as religiões afro-brasileiras ou as religiões afro no Brasil.
Roger Bastide, em algum momento começa a falar sobre a Umbanda dizendo:
“Estamos de frente para uma religião a pique de nascer”.
A Umbanda já existia, já era fundada há muito tempo.
Roger Bastide, como profundo conhecedor, pesquisador das religiões afro-brasileiras, começa a perceber a Umbanda.
Roger Bastide estuda de fora para dentro, ele tem neutralidade científica, mas ele tem interesse pelos Cultos de Nação.
Quando ele percebe a Umbanda, o que passa pela cabeça dele e que ele coloca é que a Umbanda é como se fosse uma religião afro-brasileira ou uma espécie de Candomblé sincretizado que já caminha para um africanismo-espírita.
É esse o olhar dele, ele não consegue ver a Umbanda com um fundamento próprio, para ele, aquilo parece uma cultura afro-brasileira que está se tornando mais Espírita do que naturalmente já é o Candomblé ou que não é o Candomblé.
Depois de Roger Bastide, também na USP, na cadeira de Sociologia, surge um senhor chamado “Cândido Procópio Ferreira de Camargo” que em 1960 publica o seu livro “Umbanda e Ka rdecismo - Seu tratado, seu estudo” e Cândido Procópio Ferreira de Camargo tem outro olhar.
Ele é um estudioso do Espiritismo e olha a Umbanda a partir do Espiritismo.
Se para o Roger Bastide Umbanda é africanismo-espírita. Agora, para Cândido Procópio Ferreira de Camargo Umbanda é um Espiritismo mais afro.
Ninguém olhava a Umbanda como uma coisa única, uns achavam que era um
africanismo embranquecido, outros achavam que era um Espiritismo influenciado pela cultura afro, então, um espiritismo-africanizado.
Cândido Procópio Ferreira de Camargo faz algumas colocações interessantes, entre elas, ele afirma:
“Umbanda é uma religião e é uma religião mediúnica”.
E ele fala também a partir do olhar da Sociologia, “de fora para dentro”:
“Espiritismo também é religião, é uma religião mediúnica”
“Entre a Umbanda e o Espiritismo existe o continuum mediúnico, dos médiuns que uma hora estão na Umbanda, outra hora estão no Espiritismo e Umbanda tem um encontro com o Espiritismo”.
“E existe o Espiritismo mais afro, existe a Umbanda que é mais Espírita e eles estão muito próximos”.
O estudo de Cândido Procópio Ferreira de Camargo em 1960 com esta afirmação:
“Umbanda é religião e é religião mediúnica”, foi um progresso, porque a Umbanda está sendo academicamente reconhecida como religião.
Ainda não se entende muito bem o que ela é: africanismo-espírita ou espiritismo-africanizado, porém já começa a despontar o respeito acadêmico pela religião de Umbanda nos idos dos anos 60 aqui no Brasil.
No entanto, os estudos prosseguem e depois de Cândido Procópio Ferreira de Camargo, na década de 70, surge Diana Brown, afirmando:
“Umbanda é uma religião, uma religião heterodoxa”.
Surge também Lisias Nogueira Negrão, que até hoje é um dos professores de Sociologia na USP, ainda atua, trabalha, é muito respeitado.
Lisias Nogueira Negrão tem um livro chamado “Entre a Cruz e a Encruzilhada” e ali ele diz:
“Umbanda é uma religião” ou “Umbanda é um sistema religioso aberto”.
Ele define a Umbanda como uma religião em constante mutação, como uma religião mutante, como uma religião que aceita, que é inclusiva – inclusiva quer dizer que está constantemente aceitando outros valores.
As palavras de Lisias Nogueira Negrão na década de 70 são palavras importantes.
Temos ainda Patrícia Birman, antropóloga, que afirma:
“A Umbanda é uma religião diversa, na qual se encontra unidade e diversidade”.
Dentro da pluralidade ritualística da Umbanda, podemos encontrar unidade.
O que está presente na sua diversidade e na sua pluralidade, que seriam os vários pontos riscados, as várias maneiras de praticar Umbanda:
Umbanda Branca, Trançada, Mista, Omolocô, Esotérica, Iniciática e etc, no entanto, tudo isso é Umbanda: “unidade e diversidade” colocação da Patrícia Birman em torno da década de 80.
Antes de Patrícia Birman, em 1975, encontramos outro estudioso:
Renato Ortiz.
Renato elaborou um trabalho acadêmico e o resultado dos seus estudos foi publicado num livro chamado:
“A Morte Branca do Feiticeiro Negro”.
O título assusta um pouco, mas o que tem no conteúdo é um trabalho acadêmico.
Renato Ortiz, na década de 70, foi para a França estudar com Roger Bastide porque este já havia voltado para a França.
E quando Renato Ortiz chega na França para estudar com Roger Bastide, Renato Ortiz nos esclarece algo fundamental, ele diz:
“Quando eu chego na França para estudar com Roger Bastide, naquele momento Roger Bastide já entendia a Umbanda como uma religião Brasileira”, isso foi uma consciência que Roger Bastide tomou só no seu regresso a França, não está presente nos títulos publicados aqui no Brasil.
Na França Roger Bastide reconhece Umbanda como religião Brasileira e o Renato Ortiz na sua tese publicada com o título, citado acima, diz:
“A Umbanda não é um sincretismo”.
OBS.:
Sabemos que na Umbanda existe sincretismo de santos com Orixás, sabemos que na Umbanda há sincretismo cultural, mas o que ele quer dizer é que não é apenas um sincretismo.
Ele afirma:
“Não nos encontramos mais na presença de um sincretismo afro-brasileiro, mas sim - palavras de Renato Ortiz - diante de uma síntese Brasileira”.
O que Renato Ortiz está dizendo aqui e explica na sua tese, é o seguinte:
A Umbanda não é apenas um sincretismo, Umbanda é uma religião. E a Umbanda não fez o sincretismo da cultura do índio, com a cultura do negro, com a cultura do europeu, esse sincretismo cultural ele é a cultura Brasileira.
A cultura Brasileira é fruto de outras culturas, logo, a Umbanda, não é um
sincretismo de cultura, a Umbanda é um espelho da cultura Brasileira.
E esta cultura é que é fruto de um sincretismo.
Renato Ortiz fundamenta na sua tese de forma acadêmica e científica que Umbanda é uma religião.
O que é Umbanda?
Acima de tudo, academicamente falando, para quem está de fora, olhando de fora, de forma fundamentada, ou seja, temos base de formação e conhecimento e fatos para afirmar que “de dentro pra fora” ou “de fora pra dentro” sobre o olhar Teológico ou sobre o olhar científico de qualquer ponto de vista, de qualquer ângulo: Umbanda é uma religião.
Apenas quem desconhece o que seja religião, apenas aqueles que podemos chamar como ignorantes do que seja religião, apenas na boca do preconceituoso é que virá alguma afirmação de que Umbanda não seja religião.
Umbanda é religião, é uma religião linda, só pode praticar única e exclusivamente o bem. Umbanda é: a nossa religião.
Anna Pon
23.11.2014
(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)
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