Meditação e mediunidade




Meditação e mediunidade        

A meditação é excelente ferramenta para os médiuns, pode ajudar muito na questão do autoconhecimento que levará ao conhecimento de suas companhias espirituais.

Somos corpo, mente, espírito e emoção. Tentar tratar apenas um desses nossos “corpos”, em detrimento do outro, pouco pode nos ajudar. O equilíbrio reside em tratar todos os corpos para que desfrutemos de bem estar.

Sentir e pensar são ações diferentes, separadas, às vezes sentimos algo, porém não pensamos a respeito. Corpo e espírito são igualmente separados, embora vibrem num harmônico conjunto.

Meditar ajuda a equacionar o conflito mente/coração principalmente aos médiuns em desenvolvimento.

Aprender a cuidar de si mesmo ajuda na vida e no trabalho quando o médium incorpora a fim de auxiliar outras vidas a se conhecerem e por fim melhorarem.

O fato de ser médium, incorporar espíritos uma vez por semana no terreiro, não isenta ninguém de seguir, todos os dias, cuidando se si mesmo. Tal cuidado consiste em vigiar os pensamentos, orar, agradecer, procurar ser mais atento, gentil com as pessoas e consigo mesmo.

Praticar a caridade é ato constante, não cessa após o trabalho mediúnico.

A caridade não deve ser fonte de vaidade, mesmo porque, se hoje podemos praticá-la, em beneficio do outro, amanhã, provavelmente, seremos nós os necessitados em busca dela.

Cuidar de si, corpo, mente, alma e emoção é tarefa diária, principalmente para quem exerce o mandato mediúnico constantemente.

O corpo é templo do espírito, portanto, cuidar dele, com esmero, faz parte da evolução. Somos sagrados integralmente e não há parte de nós que seja mais importante que a outra.

Zelar pela qualidade de nossas vidas é missão importante, sagrada, é evolução, por isso, respeitar os preceitos Umbandistas, recomendados ao período que antecede o trabalho, é sim muito importante, porém, não é só isso porque toda pessoa, seja ela médium ostensivo ou não, para alcançar equilíbrio, precisa levar uma vida com o máximo de atenção e respeito por si mesmo, seja nas questões alimentares, de convivência, trabalho, etc.

Recomenda-se, na Umbanda, que antes de se apresentar para o trabalho, o médium não ingira carnes, alcoólicos e não mantenha relações sexuais porque a ingestão de carnes “pesa” no estômago e dificulta a incorporação, o álcool pode gerar desequilíbrios e o sexo é uma mescla energética não recomendada antes do intercâmbio mediúnico porque o médium necessita de sua energia 100% durante a manifestação.

Em minha opinião pessoal, penso que o problema seja o excesso, por essa razão são feitas as recomendações acima que, aliás, é um exercício muito bom.

Nossos cuidados, conosco, vão além do corpo e da alma, precisamos cuidar, com a mesma atenção e esmero, de nossos pensamentos, de nossa mente que é muito “traiçoeira”. A mente pode atrapalhar, e muito, a incorporação.

A mente bem trabalhada gera tranquilidade, maturidade e equilíbrio. Uma das formas de se alcançar esses benefícios é através da meditação que é diferente de mentalização.

Meditar é esvaziar a mente e, mentalizar é permanecer num ponto, imagem fixa.

 Meditar é não pensar em nada.

Mentalizar é pensar algumas coisas que nos ajudam com relação a trabalhar os nossos pensamentos.

Podemos mentalizar a energia da cachoeira, a energia da floresta, o Guia Espiritual, podemos mentalizar situações que vão trabalhar a mente e os meus pensamentos.

Meditar traz tranquilidade para a alma que é fundamental para o trabalho de incorporação dentro do Terreiro.

Existem técnicas de meditação.

Uma delas é sentar-se, confortavelmente, e simplesmente parar de pensar, por dois minutos, no primeiro momento, depois, com treino, vontade e paciência, se consegue um pouco mais.

No caso de ser muito difícil parar de pensar, tente observar o teor de seus pensamentos, perceba qual pensamento é o mais insistente.

Detectado o pensamento recorrente, saiba que ai reside um problema a ser trabalhado porque alguns pensamentos se cristalizam e, para que nossa mente siga saudável, eles precisam ser descristalizados, dissolvidos.

Por isso, conhecer a si mesmo é tão importante.

Ao conseguir silenciar a mente, observe seus pensamentos.

Com o tempo e persistência, conseguimos enfim o silêncio em nossa mente e ele nos dirá o que precisamos trabalhar dentro de nós, seja nas questões emocionais, psicológicas ou até mesmo uma situação mal resolvida no decorrer da vida.

É muito importante entender a mente porque na hora da incorporação tudo acontece na nossa mente, quando incorporamos um espírito ele está assumindo o controle da mente. Mas, qual mente?

O Caboclo, Preto Velho, Baiano e Boiadeiro, estão incorporando e assumindo o controle de um mental desequilibrado, é difícil realizar esse trabalho e o desenvolvimento mediúnico se torna penoso, cruel, se torna um sacrifício, se torna dolorido, arrastado, cansativo, quando você não está trabalhando a sua mente.

Porque no momento em que você vai incorporar você não consegue parar de pensar.

Naquele momento em que você tem que parar a sua mente para que a incorporação aconteça você não consegue, a mente continua pensando uma série de coisas e quando a entidade incorpora você começa a pensar: “será que sou eu, será que é o Guia”, “será que é ele ou será que sou”, “o que é que está acontecendo aqui” e não acontece a entrega.
                       
Quanto mais tranquila for a mente, mais fácil será a entrega.

A técnica é: você fecha os olhos e começa a observar quais pensamentos vem a sua mente, cada vez que vier um pensamento a sua mente você vai afirmar: “não vou pensar em nada”. E você passa a repetir “não vou pensar em nada”, até que você resume isso numa única palavra “nada”, “vazio”.

Resultados serão alcançados, satisfatoriamente, desde que haja disciplina e constância.

Os nossos pensamentos costumam nos confundir, eles nos enganam.

 As nossas emoções mal trabalhadas geram dores e traumas que nos impedem de sermos nós mesmos, de viver de uma forma natural.

Trabalhar a respiração também é uma técnica muito importante que traz muitos benefícios.

Observar como respiramos, porque nós temos o costume de respirar apenas com o tórax, com o peito, a parte superior, são respirações curtas e, geralmente, respirações ofegantes, são respirações de gente cansada.

O que acontece? A gente não movimenta a barriga, o pulmão nunca enche por inteiro e o pulmão nunca esvazia por inteiro.

O objetivo primeiro é observar como eu respiro. É fato, todos nós respiramos de maneira errada. A respiração se dá em quatro tempos, o primeiro tempo é: inspirar, o segundo tempo é: segurar a inspiração, o terceiro tempo é: expirar e o quarto tempo é: segurar sem ar. Então, a primeira observação é essa: puxar o ar, segurar, depois soltar e segurar sem ar, isso tudo deve ser feito pelo nariz de boca fechada.

Aprender a controlar a respiração melhora o nosso humor, a gente consegue trabalhar a nossa energia, trabalhar o nosso ânimo.

Todas essas técnicas ajudam muito não apenas os médiuns, mas todas as pessoas. É recomendável, porém, buscar fontes seguras para o aprendizado e, posteriormente, aplicá-los.

Meditação e pranayama são recomendadas.

Existe um exercício chamado de “exercício do julgamento”.

Temos o hábito de julgar a tudo e a todos inclusive quando incorporados, portanto, esse exercício é de fundamental importância na vida do médium.

Vamos a um exemplo:

O Caboclo está dando consulta, a pessoa está contando seus problemas do dia-a-dia e você está julgando.

Acontece que o Guia não está fazendo o mesmo julgamento que você faz, portanto, não atrapalhar o trabalho do Guia é não julgar, mas se você no seu dia-a-dia não exercita o “não julgar”, não é no momento da incorporação que você vai conseguir parar de julgar o outro.

O “exercício do julgamento” ajuda muito nessas e em muitas horas de nossas vidas.

É fácil praticar, apenas saia para caminhar e não julgue nada nem ninguém quando olhar.

 O que é não julgar?

 É não pensar no que se vê não pensar em beleza, feiúra, juventude, velhice, boa ou má aparência.

Durante esse exercício é bom também, além de não julgar, não pensar em mais nada, simplesmente caminhar de mente vazia.

Esse é um passeio meditativo do não julgamento.

Existe, dentro de nós, um universo de sentimentos, pensamentos e emoções que devemos aprender a lidar, devemos aprender a ter um pouco mais de domínio e de controle sobre a nossa vida porque só assim nós vamos ter um livre arbítrio real.

Caso contrário, não temos liberdade, nós deixamos de ter a liberdade de escolha para apenas reagir a situações.

Percebemos que o nosso comportamento é um comportamento condicionado, se nós não temos controle sobre os pensamentos, nós não temos controle sobre as emoções, nós não sabemos quem somos nós, nós não temos autocontrole, nós não temos autoconhecimento, nós somos pessoas condicionadas.

Comportamento condicionado é repetir o que lhe desagradou um dia no momento atual, por exemplo, modos dos pais e formas de se relacionar com pessoas do passado.       

A meditação nos dá respostas e nos dá força para vencer os condicionamentos e para que tenhamos um pouco mais de tranquilidade, um pouco mais de paz e sermos mais felizes nos relacionamentos e na vida.

A Umbanda ensina isso, só que se eu não conseguir aplicar isso na minha vida, como é que eu vou ajudar a vida do outro?

Nossos mentores, Guias espirituais, nos ajudam a nos tornarmos pessoas melhores, mas não tem como crescer e se tornar alguém melhor, se eu não sei quem eu sou.

O que eu tenho que melhorar?

Se você tem um companheiro ou uma companheira é bem fácil, pergunte para seu companheiro ou pra sua companheira onde você tem que melhorar, eles sabem na ponta da língua. Assim como você sabe do outro, mas pra você mesmo você nunca sabe.

Não adianta falar de caridade se eu não me trabalho.        

Melhorando como pessoa, nós vamos nos tornar médiuns melhores e mais conscientes e vamos trazer qualidade de vida para a religião de Umbanda.

Anna Pon

(Texto baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)


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