Elementos de Liturgia na Umbanda (bate cabeça – consagração – imantação – cruzamento)





Elementos de Liturgia na Umbanda
(bate cabeça – consagração – imantação – cruzamento)


Liturgia significa todo o contexto do ritual de uma religião.

 Elemento de liturgia, ou elemento ritual, na Umbanda, é o ato de, por exemplo, “bater cabeça”.

O que é bater cabeça?

Por que bater cabeça? Como se bate cabeça?

“Bater cabeça”, o nome é simbólico, nos remete a ideia de alguém batendo cabeça em alguma coisa, bater cabeça é o ato ritualístico gestual de prostrar-se diante do altar, de uma entidade ou de um sacerdote.

 “Bater cabeça” é uma reverência de adoração, de humildade, de entrega.

 Dentro do ritual de Umbanda há o momento de bater cabeça, ou os médiuns já chegam no Terreiro e batem cabeça no altar antes de começar o trabalho, ou no ritual existe um momento para o ato que é acompanhado de canto especifico para bater cabeça.

Existem muitos pontos(cânticos) para o momento de bater cabeça.

Normalmente os médiuns vão um por um bater cabeça, batem cabeça no altar, batem cabeça para o dirigente ou batem cabeça só no altar.

Bater cabeça é prostrar-se. Como você vai se prostrar? Você para diante do altar, há Terreiros onde se ajoelha e encosta a cabeça no chão em ato de reverência.

Há Terreiros aonde se vai diante do altar e deita-se no chão, colocam-se as mãos para frente e toca-se o chão com a cabeça.

Há Terreiros onde, no momento em que você deita e toca a cabeça no chão, você deve levantar os pés, dobrar os pés para cima.

 Em muitos Terreiros é pedido que se bata a cabeça três vezes, porque o três é um número sagrado, três é o número da multiplicação. Ritualisticamente, a gente acaba fazendo tudo em número de três, de sete ou de nove,  são números multiplicadores.

 O três é multiplicador, três vezes três é para tudo que você fizer em três vezes, três se multiplique, prospere, aumente. O número sete é o número das sete vibrações. Bate-se cabeça três vezes e você está saudando o Alto, a Direita e a Esquerda.

Geralmente, antes de bater cabeça, em muitos Terreiros, a pessoa, na frente do altar, se ajoelha e faz o sinal da cruz com a mão, cruza o chão, “cruzar” é fazer o sinal da cruz e faz a saudação para o Alto, o Embaixo, a Direita e a Esquerda daquele Terreiro e ali se ajoelha ou deita-se e bate-se cabeça tocando o chão com a testa.

O ato ritualístico de bater cabeça é um ato de entrega. O momento de bater cabeça é um momento de entrega.

Naquele momento, de forma pessoal, você eleva o seu pensamento a Deus, aos Orixás, aos seus Guias e você se entrega.

A pessoa, nessa hora, está oferecendo a sua cabeça para a religião, bater cabeça é se oferecer, se entregar. Está-se oferecendo o Ori,  em humildade está entregando o que há de mais sagrado em você, o seu Ori, oferecendo para Deus, para os Orixás, para os Guias de Umbanda. É uma entrega, isso se chama “bater cabeça”.

A pessoa que bate cabeça  está ali para servir, para obedecer, para trabalhar e reconhece que o Terreiro tem um comando, esse comando vem de Deus, dos Orixás, dos Guias e também do dirigente espiritual.

E que assim, como numa orquestra, você tem um maestro e cada um dos elementos da orquestra tem o seu papel, a sua partitura para desempenhar e o maestro comanda. Quando você bate cabeça você está dizendo:

“Estou aqui para desempenhar o meu trabalho, a minha função nesse conjunto”, “Estou para trabalhar em harmonia com o grupo”, “Estou para obedecer, acatar, respeitar”, “Estou aqui em ato de humildade, ato religioso”.

 É por isso que em muitos Terreiros bate-se cabeça no altar e depois diante do dirigente, aos pés do dirigente para que fique claro que ali, naquele Terreiro, você reconhece aquele dirigente espiritual, aquele sacerdote, sacerdotisa, padrinho, madrinha, pai de santo, mãe de santo,  como o orientador, o tutor, o condutor, o sacerdote, o mestre, no Terreiro, o dirigente é o mestre, você está em atitude de discípulo diante dele batendo cabeça e pedindo a benção.

Nota: Cada terreiro tem sua forma de trabalho, inclusive ritualística própria e, aderir ou não, às normas da casa e de seus dirigentes, fica a critério de cada um.
(Annapon)


 Quando se bate cabeça para o sacerdote, para o dirigente, na verdade se está batendo cabeça diante do Templo vivo que é o que ele representa, o sacerdote é o “Templo vivo”, apesar de ser uma pessoa humana, cheia de falhas, de erros, defeitos e vícios.

 Nesse momento, não se está batendo cabeça para o homem ou para a mulher, e sim se bate cabeça para o sacerdote. E há de se entender que humanos todos nós somos com erros defeitos e vícios.

Ao bater cabeça para o sacerdote, se reconhece nele autoridade e responsabilidade pela casa, pelo grupo e pelas entidades que o acompanham, porém, há de se ter muita cautela, há de se conhecer, ao menos um pouco, o caráter e o comportamento do sacerdote que faz questão desse gesto dentro da ritualística de sua casa. Cautela e bom senso sempre devem permear os caminhos dos que se dispõe a pisar na Umbanda.

Existem terreiros nos quais se bate cabeça para a entidade chefe do trabalho, não necessariamente à entidade chefe do terreiro, mas aquela que, em seu nome, abre uma gira de caridade.

Em quase todas as religiões existe um momento em que o adepto se ajoelha e bate cabeça. No Islã todos os dias o mulçumano reza cinco vezes por dia voltado para Meca, ele se ajoelha e bate cabeça voltado para Meca. No Catolicismo há rituais realizados em Roma onde vemos os padres se deitarem no chão, abrirem os braços e ali ele está batendo cabeça.

No Judaísmo, há momentos e rituais, principalmente dentro da Cabala Hebraica, em que se ajoelha e toca o chão com a cabeça. No Budismo o gesto demonstra humildade. Existem várias dimensões de importância do ato gestual.

É difícil imaginar uma pessoa arrogante batendo cabeça, é difícil imaginar uma pessoa soberba batendo cabeça para outra, é difícil imaginar alguém vaidoso, egocêntrico, assumir uma atitude de humildade de bater cabeça para outra pessoa, porém, se o ato não for sincero, espontâneo, essa relação, discípulo/sacerdote, pode se contaminar, corromper e desencadear sérias complicações como traumas, por exemplo. É importante, para tanto, confiar, respeitar e admirar o bastante para que tal gesto flua, tranquilamente, de dentro para fora, do contrário, certamente, não surtirá o efeito benéfico desejado entre ambas as partes.

Bater cabeça é um ato litúrgico, ritualístico, nós vamos entendendo que cada elemento do ritual tem a sua importância de ser, não é por acaso que existem esses momentos ritualísticos.

Todos nós temos defeitos e vícios, mas, alguns de nós, apesar dos nossos defeitos, temos a missão do sacerdócio e a responsabilidade de conduzir pessoas apesar dos nossos defeitos. Só há de se  tomar cuidado para não se relacionar com o homem ou com a mulher, mas sim, com o sacerdote e com a sacerdotisa.

Da mesma maneira, quando você alcançar o seu grau, no momento em que entender que amadureceu, dentro da caminhada mediúnica,  já que todos nós somos sacerdotes em potencial, Templos vivos,  nunca se esqueça de quem lhe preparou, orientou, recebeu e cuidou.

Cada gesto ritualístico tem uma razão de ser.

Outro gesto ritualístico muito importante e que também costumamos fazer é o de chegada ao Terreiro e é comum que se faça a saudação na entrada, isso se chama “cruzar”, cruzar a porta do Terreiro é o momento em que o médium, quando chega ao Terreiro, se ajoelha e faz o sinal da cruz no chão, faz o sinal uma vez ou faz esse sinal três vezes. Tudo que se faz na Umbanda se faz uma vez, três vezes,  sete ou nove vezes.

Geralmente as pessoas fazem o sinal da cruz uma vez ou três vezes.

 Pai Ronaldo Linares, da Federação Umbandista do Grande ABC, costuma dizer:

 “Nesse momento você deve fazer o sinal com as costas da mão porque é a parte limpa, para você tocar o chão sagrado com o lado da sua mão que está limpo”.

Na maioria dos Terreiros se toca o chão com a ponta dos dedos, fazendo o sinal da cruz.

Mais uma vez, Pai Ronaldo Linares, da Federação Umbandista do Grande ABC recomenda fazer o sinal da cruz e saudar: “Olorum, Oxalá e Ifá”, que nesse ponto de vista representa: “O Pai” – Olorum/ Oxalá - “O Filho” e Ifá – “O Espírito Santo”, então, se faz o sinal da cruz saudando: (Oxalá) Olorum, Oxalá e Ifá.

Rubens Saraceni orienta a fazer o sinal da cruz e saudar as forças: do Alto, do Embaixo, da Direita e da Esquerda, assim você está fazendo uma saudação a todas as forças que tomam conta daquele Terreiro. Você faz isso na porta do Terreiro, antes de entrar.

Existe outra questão que deve ser levada em consideração, você está chegando da rua, do mundo profano e está vindo para o universo do sagrado, a porta é o limiar.

Ao chegar num Templo, podemos entrar como quem entra num salão, numa casa, num quarto, numa sala ou se pode entrar como quem entra em outro universo, outro mundo, ali dentro o que vale é outra realidade. Podemos dizer mais ainda, podemos dizer que existe: o Terreiro material, o Templo material e o Templo espiritual, o Terreiro Astral. Você quando entra no Terreiro você entra apenas num local material ou você está adentrando o ambiente sagrado pelo lado sagrado?

Há o lado material e o sagrado. Se você pretende entrar num Terreiro pelo lado sagrado, adentrar o Templo espiritual há de se pedir licença para que nesse momento se consiga entrar no ambiente divino e sagrado.

É nesse momento que se pede licença para adentrar num universo sagrado, eu passo a fazer parte disso, eu estou dentro desse universo, eu sou “um” com o universo sagrado do Terreiro. Se a gente para na porta do Terreiro, a gente faz o sinal da cruz, a gente pede licença para entrar e entra pelo lado sagrado do Terreiro e o sinal da cruz é o sinal de passagem.

A cruz é o símbolo de Obaluaiyê, símbolo das passagens, dos entrecruzamentos. Então, a porta do Terreiro é a passagem, o limiar entre o sagrado e profano, ali é o lugar correto de pedir licença. Uma vez dentro do Terreiro é comum, se a firmeza de Esquerda não está do lado de fora, você ir até a Tronqueira e saudá-la ou fazendo o sinal da cruz ou tocando o chão três vezes com as pontas dos dedos..

Há Terreiros que também não usam fazer o sinal da cruz na entrada, só se toca o chão três vezes e depois se vai até o altar e bate-se cabeça ou espera-se o ritual começar.

O Terreiro é lugar de silêncio e meditação e todos tem que sentir que o espaço é especial.

A palavra “cruzar” está associada à cruz, dentro da Umbanda existe uma cultura ritualística voltada a três questões: consagrar, cruzar e imantar – coisas, objetos e o próprio Terreiro, o próprio Templo.

Consagrar é tornar sagrado.

Mircea Eliade diz:

“Que todos os elementos do universo do sagrado passaram por algum tipo de ritual para justificar a sua presença dentro desse universo”.

Se nesse universo sagrado de Umbanda existe um colar de contas, um colar de miçanga, para o profano isso é apenas um colar, mas para o sagrado, isto é uma guia de Oxalá.
Qual a diferença entre um colar de miçangas brancas e uma guia de Oxalá?

 É que esta guia foi consagrada, passou por um ritual, foi consagrada, imantada e cruzada.

Cruzada quer dizer que por meio desse ritual, ela foi vinculada às forças que regem o Terreiro ou o médium – no Alto, no Embaixo, na Direita e na Esquerda.

 Ela está vinculada simbolicamente, está cruzada, consagrada e imantada.

Imantada vem de “imã”. O que é que o imã representa? Magnetismo.

Imantada quer dizer que ela foi carregada do magnetismo de Oxalá. Porque é uma guia de Oxalá. Então, como é que se cruza uma guia para Oxalá? Como é que se imanta? Como é que se consagra?

 Se eu dou essa guia na mão de uma entidade,  um Preto Velho, por exemplo, ele pega a guia e ali, com elementos da liturgia sagrada de Umbanda, com seu cachimbo, com seu cafezinho, com a sua reza, o Preto Velho, com a guia dele que já está imantada, coloca a minha guia na mão e dá uma baforada, reza segura nas mãos, levanta essa guia, faz o sinal da cruz, está cruzando essa guia, ele faz o sinal da cruz, ele está fazendo um ritual com ela, está tornando essa guia consagrada, está colocando o seu axé, a sua força.

 É para Oxalá?

Ele eleva o pensamento a Oxalá e pede a Oxalá que ponha nessa guia o seu axé, a sua força e essa guia está consagrada a Oxalá por meio de um Preto Velho.

 Um Caboclo pode fazer isso, um Baiano, um Boiadeiro também podem.

Se a guia for de Esquerda, de Exu e Pomba gira, eu dou para um Exu cruzar ou dou para meu Exu cruzar.

Há outra forma de consagrar uma guia, pode-se fazer uma oferenda, colocar essa guia dentro e no momento da entrega da oferenda, ajoelha-se batendo cabeça, levantando as mãos, rezando para o Orixá e pedindo a Ele que consagre de forma direta, consagre, cruze, imante com sua força, com seu poder.

Quais guias podem ser consagradas?

Guias de miçangas, que não sejam plásticas e sim de porcelana.

A porcelana é um elemento mineral, não é sintética.

 Podem ser consagradas todas as guias desde que não sejam de plástico, elas podem ser de porcelana, cristal, sementes, mas não devem ser de plástico.

 Plástico não é utilizado de forma ritualística, o plástico pode ser usado de forma simbólica, mas ele não fica imantado, ele não fica carregado da força, do axé de um Orixá, de um Caboclo, Preto Velho, de um Baiano ou Boiadeiro.

Simples assim.

Da mesma forma como se consagra uma guia, você consagra um cachimbo, você consagra uma espada.

 Uma espada de Ogum pode ser  levada à natureza e se faz uma oferenda pede-se a ele para consagrar e a força dele também ficará firmada ali, existe uma força firmada, uma força estabilizada e um vínculo desse elemento com o Orixá.

Pode-se providenciar uma pedra para cada Orixá, fazer uma oferenda para cada Orixá e cruzar, imantar e consagrar cada uma dessas pedras, a força do Orixá fica firmada na pedra.

Não é um assentamento porque não é para sustentar o trabalho, mas fica firmada.

Se forem consagradas sete pedras e colocadas no centro do altar com uma vela no meio, este conjunto pode ser um assentamento irradiante de forças.

Esses são alguns recursos, a quantidade de recursos, de receitas ou de maneiras, de liturgia, de fundamento, de construção, de elementos, de assentamento, firmeza, é infinito, não acaba mais.

Da mesma forma se faz com imagens.

Compra-se a imagem de gesso e costuma-se levar essa imagem ao Terreiro para ser cruzada, consagrada, você entrega na mão de um Caboclo, de preferência um Caboclo de Ogum e esse Caboclo cruza essa imagem na hora ou se faz uma Gira de Ogum e coloca-se essa imagem no altar para que Ogum incorpore, dê o seu axé naquela imagem ou se a imagem é uma imagem importante para o Terreiro, pode-se até fazer uma oferenda para Ogum, um culto de Ogum e pedir que nesse culto, aquela imagem esteja consagrada, imantada e cruzada.

Algumas pessoas costumam consagrar um Otá para o Orixá e colocar esse Otá dentro da imagem de gesso, isso também pode ser feito.

Nós não somos adoradores de imagens, quando tenho um altar com imagens, não estou adorando as imagens. As imagens são referências físicas das divindades, eu adoro a Deus e as suas divindades, a imagem é uma referência dessa adoração, desse culto.

 Se tiver uma estátua é adorar imagens, então, se tiver fotografias em casa também é adoração de imagem. Se você não pode ter uma estátua de um santo porque isso é adoração de imagem, então, me desculpe você não pode ter fotografia de parente porque é adoração da imagem do parente, é a mesma coisa.

Não se reza para a estátua, a estátua é uma referência da divindade a qual estou rezando. Agora, se essa imagem está consagrada e existem muitos mistérios entre o céu e a Terra, muitos mais do que a gente pode compreender, se aquela imagem está consagrada, ela emite um brilho astral, essa imagem depois de consagrada e cruzada, ela tem luz astral e quando nós estamos no Terreiro olhando para aquela imagem, o amor das pessoas envolve aquela imagem e esse amor se reflete e entra pelos nossos olhos de alguma forma nós sentimos a energia que vai ficando naquela imagem.

Dessa forma não se adora a imagem, mas ela passa a ter a energia de adoração, de amor, essa energia se fixa na imagem.

O médium psicômetro ( psicometria – tipo de mediunidade ),  consegue fazer a leitura da energia que tem cada um dos objetos numa sala, num local.

 A pemba também é cruzada da mesma maneira, só de um Caboclo segurar uma pemba, essa pemba se torna imantada, cruzada e consagrada, então, essa é uma consagração, a mais simples e a mais básica.

Outra forma de consagrar a pemba é na natureza, fazer uma oferenda, colocar a pemba no centro e pedir que o Orixá, na natureza, consagre aquela pemba, e ela passa a ter a força de uma firmeza, de um assentamento. Qual o objetivo? Ter uma pemba com uma força dessas serve para trabalhos especiais de descarga.

Quase todos os elementos de um Terreiro podem ser cruzados, consagrados, os elementos que os Guias usam, ao longo dos anos, se tornam carregados e imantados da energia dessas entidades, são todos elementos de força, de poder, de construção e o Terreiro em si também é um local consagrado.

Em que momento o Terreiro se torna sagrado?

 Na construção.

Quando alguém recebe a missão de montar um Terreiro, o que faz?

A primeira coisa é estabelecer o local físico. Onde vai ser esse Terreiro? Vai ser no quintal?

Às vezes se está trabalhando dentro de casa ainda, num quarto, numa sala, e é normal que seja assim, apesar de muitos médiuns serem proibidos de incorporar em casa, a pergunta é:

O que é necessário para incorporar um Guia em casa?

 É necessário maturidade e conhecimento,  saber abrir, realizar o trabalho e fechá-lo, isso se chama “maturidade”.

No meio desse caminho entre abrir, fazer o trabalho e fechar o trabalho, nesse meio de caminho o que vier você resolve, incorporado.

Se houver um obsessor,  kiumba se tem trabalho, demanda você incorporado dá conta do que tem para fazer e não fica nada para depois, isso é “maturidade mediúnica”.

Tem problema trabalhar em casa?

Vai atrair obsessor?

 Não, porque você está incorporado de um Guia e ele tem que dar conta. O Preto Velho, o Caboclo, o Baiano, o Boiadeiro, o Exu, a Pomba gira, se tem algum obsessor, alguma coisa, se trouxe espírito, se esse trabalho lidou com espíritos, até o trabalho encerrar eles têm que encaminhar todo mundo, então, o trabalho em casa não é problema, o único problema é brincar, brincar de mediunidade, brincar de fazer Umbanda.

Se você está fazendo um trabalho sério, com maturidade, com princípio que norteia essa atividade mediúnica, então, está tranquilo porque você está incorporando um espírito de luz.

Como eu avalio o espírito se ele é de luz ou não?

Pela a sua mensagem. Não importa se ele é Caboclo, se ele é Exu, incorporou para fazer o bem? Está fazendo o bem? Está curando? Então, ele é de luz.

Dizem: “Ahh, mas o demônio tem artimanhas para nos enganar”, “Porque o tinhoso, ele se disfarça como se fosse da luz para nos enganar”. Tem uma passagem Bíblica que fala isso sobre Jesus e ele diz:

“Pode o demônio estar contra o demônio?”

Como pode o tinhoso se disfarçar de luz para lutar contra o próprio tinhoso?

Porque o mal, o diabo, o demônio está dentro de nós.

O céu e o inferno estão dentro de nós, não é um lugar físico.

O que é o inferno, senão o encontro daqueles que tem afinidade?

 Identifica-se o próprio inferno interior de um com o interior de outro e todos ficam juntos naquele encontro infernal.

Agora, se você está em casa incorporado de uma entidade fazendo bem e as pessoas choram de emoção, as pessoas se curam e está rezando, está falando de Cristo, de Orixá, de Deus, de caridade, do amor, o que é que há?

Existe uma entidade de luz ali.

No caso de dúvida pergunta-se à entidade:

 “Meu pai, está faltando alguma firmeza?”, “Está faltando alguma força?”, “Há  perigo trabalhar em casa?”, pergunte para o seu Guia.

 Pode algum encarnado dizer o que você pode ou não fazer na sua casa? Não. Pergunte para o seu Guia.

Perceba se quando terminou o trabalho você está melhor do que quando começou. Porque isso é importante. Terminou o trabalho, você está melhor?

Você está se sentindo melhor do que quando começou?

Porque se quando terminou o trabalho você está se sentindo pesado, mal,  está com carga negativa, aí sim. Então, não termine o trabalho, chame o Guia e diga a ele:

“Meu pai, eu ainda não estou bem, estou me sentindo mal, com carga”.

Ao terminar o trabalho todos devem estar bem, descarregados, de outra forma  chama-se de volta, começa outra vez, pede para descer:

“Volta meu pai, porque acabou o trabalho e não estamos nos sentindo bem”.

Se esse ambiente sagrado está sendo construído em casa, num quarto, numa sala, num quintal e não é um Templo que foi construído para isso, o que eu tenho a dizer é o seguinte:

Quando um Caboclo incorpora num local que seja o quarto, a sala da sua casa, ele incorpora naquele local para realizar um trabalho de caridade, para fazer um atendimento, dar um passe, uma consulta, ali ele acende uma velinha, acende um cachimbo, naquele momento esse local passa a ser sagrado. (Alexandre Cumino)

 Se não era porque é apenas a sua casa, passa a ser sagrado.

E digo mais, a casa da família, a sua moradia já deve ser o Templo da família,  nossa casa é o nosso Templo familiar porque a casa tem a energia da família e a família é algo que deve ser sagrado e divino para nós, então, a minha casa é o Templo da minha família, lá eu faço as minhas firmezas, lá eu tenho o meu altar, na minha casa, na minha residência eu rezo e quando eu incorporo um Caboclo ou um Exu em casa, aquele ambiente se torna sagrado.

A construção de um Templo é mais formal, o primeiro passo é alugar um salão.

Aluga-se um salão, ele é apenas um salão. Ele passa a ser um Templo depois que for cruzado, imantado e consagrado.
 Da mesma forma, que você cruza, consagra e imanta uma guia, você cruza, consagra e imanta um espaço físico, um Templo.

Qual a primeira coisa a fazer nesse salão?

 Como tudo começa com a Esquerda, a primeira coisa é fazer um agrado, uma oferenda para sua Esquerda ali dentro, de preferência já estabelecendo onde vai ser a firmeza da Esquerda ou onde vai ser a Tronqueira.

No mínimo uma garrafa de água ardente, marafo, pinga, cachaça, chame como quiser, uma garrafinha, uma vela para o seu Guardião ou sete velas para o seu Guardião, um charuto e o copo para colocar a cachaça, ofereça isso a ele e o coloque em terra para dar o seu axé ali dentro e para descarregar o que tiver que descarregar já.

Faça o mesmo para sua Pomba gira Guardiã, firme a sua Esquerda e descarregue o ambiente.

Se precisar de mais alguma coisa para descarregar, limpe com pipoca de Obaluaiyê, estoure a pipoca, ofereça a Obaluaiyê, jogue pipoca em tudo, peça a Obaluaiyê para limpar e descarregar e de um dia para outro, se recolhem as pipocas e joga-se fora.

 Pode-se fazer ainda um bate folha que é juntar várias folhas, de vários Orixás, mas de preferência são folhas compridas, ofereça essas folhas a Oxóssi e você vai rezando para Oxóssi, para Ossain e vai batendo essas folhas no chão e vai limpando e descarregando todinho esse chão.

 Faz-se uma defumação, enfim, limpe, deixe o local limpo e neutro, descarregado, pergunte para teu Exu: “Precisa fazer mais alguma coisa?”.

Coloque o  Caboclo em terra, pergunte:

 “Está certo? Está de acordo? Onde vai ser o altar?”

O altar é o norte, não necessariamente o norte geográfico, mas é o que vai nortear todo o trabalho.

O altar está lá, à sua frente, então, você vai riscar uma cruz no chão sendo que o lado de cima da cruz está de frente para o norte do altar.

Se a tronqueira estiver no sul é o ideal, nem sempre dá para fazer o ideal, mas, se conseguir o ideal, o altar no norte, a tronqueira no sul, ou seja, o altar na frente e a tronqueira atrás, risque uma cruz no chão, coloque quatro velas brancas, uma em cada ponta, mas uma vela branca para o seu Anjo da Guarda no centro ajoelhe-se – veja a coisa mais simples do mundo – ajoelhe-se, eleve o pensamento a Deus a seus pais e mães Orixás e peça  que Deus e os Orixás cruzem, imantem e consagrem esse local para ele se tornar sagrado.

A partir do momento em que o local estiver imantado, as paredes do Terreiro vão se tornar paredes no mundo astral e nenhum espírito vai mais atravessar essas paredes, eles vão ter que entrar pela porta porque o local vai se tornar imantando com energia, como um forte, uma fortificação, uma caixa forte, um local hermeticamente fechado que só se entra quando abrir a porta.

Feita a firmeza da Esquerda, a energia já se estabelece no local e, com a força de todos os Orixás, o local está cruzado.

Com o altar em local definido, a cruz feita, os pontos riscados, oferece-se, normalmente,  uma vela de sete dias a pai Oxalá e deixa-se firmada de agora para sempre,  no mínimo uma vela de sete dias para pai Oxalá.

Assim temos o altar simbolizado pela vela de pai Oxalá, a tronqueira simbolizada pela firmeza da Esquerda, deixa-se a vela de sete dias para Exu e Pomba gira e este é o espaço sagrado simbolicamente já consagrado, imantado e cruzado na força que lhe rege: pelo Alto, Embaixo, Direita e Esquerda, a presença de todos os Orixás e Guias da Umbanda.

É bem simples e muito poderoso.

Nota: Sempre ouvi dizer que trabalhar em casa não é bom por uma série de razões que, na época, me foram expostas. Depois do curso, Teologia de Umbanda Sagrada, pude entender, pelo acima exposto, que não há mal algum e sim há de se adquirir conhecimento e principalmente, bom senso, equilíbrio e muito amor regado por uma imensa boa vontade e fé.

Se a pessoa não dispõe de recursos financeiros para edificar um templo, mesmo bem simples, e necessita servir de instrumento à espiritualidade, tendo apenas a si mesmo e ao seu lar a oferecer, que mal pode nisso haver?

Felizes aqueles que cumprem com amor a sublime missão que a eles o Pai confiou seja como for.

Anna Pon

(baseado no Curso de Teologia de Umbanda Sagrada – Desenvolvido por Rubens Saraceni – Ministrado por Alexandre Cumino)


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