Assistência Espiritual na Umbanda
Assistência Espiritual dentro da Umbanda
Por Fernando Sepe
Amor e caridade, eis a filosofia básica dentro da Umbanda.
Independente da linha ou
escola doutrinária seguida, essas duas palavras sintetizam todo e qualquer sério templo
dentro da nossa religião.
A Umbanda tem como objetivo servir de ligação ao Criador Olorum,
despertando as pessoas para o verdadeiro amor, o incondicional, e tem na caridade sua forma
mais objetiva de colocar tudo em prática.
Se por um lado a Umbanda virou sinônimo de caridade ou assistência espiritual, por
outro lado muito pouco desenvolveu–se em relação a outros aspectos. Esqueceu–se que as
atividades de assistência, ou caridade ao próximo, podem ser de dois tipos básicos: a
consolação e o esclarecimento.
A “consolação” é o que vemos todos os dias dentro do terreiro. As pessoas vêm e
individualmente recebem conselhos a respeito do seu dia a dia, recebem passes com o
objetivo de limpeza energética, energização, cura e muitas outras funções. Muitos encontram
no “colo” do preto velho, ou na alegria do baiano, o amigo que lhes falta dentro do seio da
sociedade, o pai sábio e amoroso a lhes orientar.
A consolação não tem como grande objetivo ensinar, mas sim auxiliar de forma direta.
Ela “dá o peixe”. Atinge as necessidades da maioria da população. É mais emocional do que
racional, e trabalha individualmente dentro de cada um. O trabalho caritativo de consolação
é extremamente importante, principalmente devido às carências emocionais e conscienciais
que ainda afligem a sociedade.
Essa busca incessante pela caridade é ainda, notavelmente, uma influência grande da
consciência cristã que muito influenciou e ainda influencia dentro do pensamento
umbandista.
Podemos encontrar esse tipo de pensamento também em outras escolas cristãs
espalhadas pelo mundo, como na Igreja Católica, no Protestantismo e dentro do
Espiritismo/kardecista.
Assim, a “caridade de consolação” já encontra–se totalmente fundamentada dentro do
segmento umbandista. Mas ela traz com ela uma grande lacuna: o esclarecimento das
milhares de pessoas que frequentam a assistência dos templos.
O esclarecimento não “dá o peixe” mas ensina todos “a pescarem”. O esclarecimento
ensina, e dessa forma, coloca a responsabilidade, ou o destino pessoal, nas mãos de cada um.
O esclarecimento é uma atividade mais racional do que emocional. Atinge as necessidades
coletivas de toda a sociedade.
Visa o autoconhecimento e a independência do espírito encarnado. Visa o
reconhecimento de sua divindade pessoal e de suas próprias capacidades. Tem na
mediunidade apenas um meio, nunca um fim. Visa também o despertar das capacidades
anímicas de cada um. Dá as pessoas uma consciência universal em relação à humanidade,
além de cortar e desestimular qualquer processo de fanatismo, idolatria ou “gurujismo”.
É importante que fique claro que não estamos falando de uma pregação moralista, de
uma doutrina dogmática ou de “evangelização”. Estamos falando a respeito de tornarmos as
pessoas livres, fazer com que elas lembrem–se que são grandes pássaros e o destino de cada
um é voar por onde suas consciências os levarem.
Como diz um dos guias espirituais que trabalham comigo: “Caridade de consolação” ergue
a pessoa, mas depois que ela já está de pé, está na hora de ensiná-la a andar, com a
“caridade de esclarecimento”. Pensemos nisso!
Estudando a vida dos grandes avatares da humanidade, veremos que todos, muitos além
de praticarem curas milagrosas, ou grandes fenômenos, deixaram uma vasta sabedoria
buscando o esclarecimento do mundo. Vejam a doutrina de auto–realização deixada por
Buda, à doutrina do agir consciente de Krishna, a doutrina de amor de Jesus.
Vejam também o quanto muitas vezes o consolo é mal interpretado pelo próximo,
virando algumas vezes uma “obrigação” em relação ao outro que lhes estendem a mão, ou o
que é pior, torna–se um vício ou “muleta emocional – psicológica”, sem a qual as pessoas
não podem viver, discernir ou decidir nada.
Além disso, a busca única pelas necessidades individuais, e, por conseguinte o
“consolo”, é o que levam muitos umbandistas ainda a terem em suas mentes a ideia de não
existir necessidade de estudo ou busca de conhecimento por parte deles mesmos. Dependem
unicamente do guia espiritual, e criam com ele uma relação direta de dependência,
desperdiçando as oportunidades dessa convivência que suas faculdades mediúnicas lhes
facultam.
Não estamos falando que um tipo de assistência é melhor do que outra, mas estamos
falando sim de que as duas devem andar juntas, de mãos dadas, para o melhor
desenvolvimento de todos. Estamos falando de esclarecer e consolar. Estamos falando em
unir o coração e a mente, para o melhor aproveitamento da atual encarnação.
Estamos propondo a consulta com o guia espiritual, mas também a palestra instrutiva,
que pode ser feita inclusive pelos próprios guias espirituais.
O intercâmbio entre mundos
deveria ser melhor aproveitado, não visando apenas consolar o próximo, mas sim esclarecer a
todos.
Estamos propondo aliar aquilo que sempre deu certo na Umbanda com algo que pode
ainda mais melhorá-la. Estamos propondo o estudo e o esclarecimento de todos os
umbandistas, para que todos assumam perante si mesmos, os vossos destinos e por si só
busquem o caminho da elevação.
Acreditamos piamente na busca pelo esclarecimento e é desse ideal que surgem veículos
como o Jornal de Umbanda Sagrada, por exemplo.
O JUS tem com intuito
único levar conhecimento e esclarecimento a todos, preenchendo essa lacuna ainda existente
na religião. E assim também surgem os livros inspirados pelo astral superior, os cursos que
ensinam e libertam, os programas nos meios de comunicação, os bons e instrutivos sites na
Internet. Tudo isso com a intenção de esclarecer.
Pensem bem: Doações materiais, passes, evangelizações, consultas com os guias são
muito importantes e sem dúvida é um ato de caridade. Agora, palestras, grupos de estudo,
cursos de qualidades, boas leituras, textos de qualidade, entre outras coisas, também são de
extrema importância e também são atos caritativos.
Nesse começo de ano, pensem bem em qual será a tônica do trabalho espiritual que vocês
todos realizarão. Conversem com os vossos mentores. Abram–se para novos ideais. Elevem a
mente ao alto, para que as ideias cósmicas superiores desçam sobre vocês.
Umbanda é Amor e Caridade! Amor aos Orixás, aos guias, a humanidade toda. Amor
espiritual, aquele que nada cobra em troca, aquele que não sente ciúmes nem raiva. Aquele
que não tem barreiras e é universal. Aquele que eleva a alma e faz o coração brilhar.
Caridade, ato de amor ao próximo. Ato esse que ajuda e explica, que ergue a pessoa e
ensina a caminhar, que auxilia sem criar dependência, que não vende milagres mas sim
mostra a responsabilidade de cada um!
Caridade, ato que consola e esclarece!
Meditem nisso...
Um Grande Abraço – Fernando Sepe
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