Linha e arquétipo dos Boiadeiros
Linha e arquétipo dos Boiadeiros
Por Rodrigo Queiroz
Em nossa última passagem pela Terra fomos filhos da terra, aqueles que dela viveram,
dela extraímos a raiz de cada dia, o alimento da família e a esperança.
Montados no lombo de um cavalo ou boi, ao som do
berrante, era possível berrar ao Pai Criador que olhasse por nós.
Eu fui peão, cuidei de muitas fazendas e deixei muitos fazendeiros ricos,
estranhamente não respingava no meu bolso a pataca que no deles enchia. Tampouco me
queixava disso, afinal, não saberia viver com luxo, gostava mesmo da rede amarrada no
batente da simples varanda, ali eu podia descansar meus ossos.
Pra que se tenha mais entendimento, nós somos os verdadeiros sertanejos, aqueles que
vivem na ferida do Brasil, é uma chaga que não se fecha e com o andar da carruagem periga
que esta chaga tome o corpo todo desta terra varonil.
Não vou ficar a falar de minha pessoa e nem desta realidade brasileira, vou logo
palestrar sobre nós como amigos trabalhadores do mundo invisível.
Parece que a linha dos boiadeiros é nova, mas não é não. Já manifestávamos em
terreiros, tendas e barracões de muitas variantes do culto afro.
No Catimbó é mais notável
nossa presença.
Quando começou o movimento Umbanda no Astral é que nos organizamos e aguardamos
a oportunidade de aparição dos terreiros deste culto. Assim foi ocorrendo de forma regional
até que nos alastramos por todos terreiros de Umbanda. Mas engana-se aquele que hoje pensa que esta linha de trabalho é composta por homens e mulheres da terra. Nem todos, aqui
tem uma mistura grande.
Também tem o machista que prega não existir mulher na linha boiadeiros, então o que
faríamos com as amazonas? Ou tantas “Marias Bonitas” que guerrilharam por uma vida
melhor???
Outro tanto de companheiros nesta linha são Ex-Exus, ou seja, espíritos que atuaram no
Grau Exu, lá nas esferas mais baixas e que após receber a graça de se graduar na luz tem
que passar por uma linha transitória. Eis a chave do nosso “mistério”.
Boiadeiro enquanto
Grau é um Grau de transição para espíritos que aguardam seu alocamento mais definitivo.
Neste período vamos trabalhando na Lei, colocando ordem na fronteira do meio fio
entre luz e trevas, já esta tênue linha existe dentro de cada um de nós, logo a oportunidade
de trabalhar a ordem na fronteira, nos nossos semelhantes encarnados e desencarnados é a
forma que o Criador achou para que nós pudéssemos fortalecer a ordem dentro de nós
mesmos.
Com nosso laço, visto pelos clarividentes, este serve para buscar os zombeteiros e
perturbadores. Nossa corda é infinitamente “elástica” e de onde estivermos se localizarmos
um ponto negativo e um perturbador, dali lançamos o laço e no laço quebramos o mal.
Somos comumente chamados nos terreiros para limpeza pesada, pois somos mesmo
aquele que retira a carga pesada, quando batemos nosso pé e gritamos nosso boi, não sobra
mal algum em nosso redor.
Por fim, nosso arquétipo é o sertanejo, o brasileiro do sertão,
quer seja o guerrilheiro lampião ou o tocador de gado. No entanto nem todos foram assim.
Vou tocando meu gado por aqui e desejo que o Criador lhe ilumine!
Getuá Boiadeiros!
Nota do Médium:
Quem não sentiu o chão tremer e o corpo bambear ao presenciar a
manifestação de um Boiadeiro no terreiro, girando o braço como que a laçar um boi e
gritando: - Êi boi! ??? A oportunidade de convivência com a diversidade cultural brasileira
que a Umbanda fornece é algo incrível que só vivenciando para poder compreender.
Podemos viajar o Brasil todo em apenas uma gira.
Desde que comecei a receber este texto, parecia que escutava ao fundo a música Rei
do Gado.
Obrigado aos valentes Boiadeiros do Além que nos amparam e nos guiam, como disse certa
vez o Sr. José Anízio:
“Estamos a serviço do Criador para tocar seu gado divino, cada filho seu, seu rebanho
e cabe a nós laçar aqueles que se perderam ou afundaram em algum brejo da evolução e
uma vez laçado vamos recolocar na trilha reta do caminhar. Mais um adeus e lá vamos nós a
laçar o boi de meu Deus!”
Ditado por Sr. José Anízio
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