O SAGRADO NAS CULTURAS INDÍGENAS
O SAGRADO NAS CULTURAS INDÍGENAS
POR BENEDITO PREZIA
“Há cinco séculos enfrentamos a evangelização no Brasil. Dentro desses séculos, só vimos a
dominação, a exploração e o extermínio do nosso povo e a perda da nossa identidade cultural indígena.
Para nós, a Boa Nova já existe dentro das nossas convivências”.
Esse brado em defesa da cultura e da religiosidade indígenas, foi lançado pela delegação de povos
nativos, presente ao V Congresso Missionário Latino-Americano, o COMLA-5, em Belo Horizonte, em julho
de 1995.
É também um desafio lançado às Igrejas cristãs, que muito pouco conhecem e respeitam essas
expressões religiosas.
Durante muito tempo falou-se em índio, como se fosse uma categoria única, biológica, sem levar
em conta a realidade cultural. Esse conceito foi uma criação colonial, baseada num erro histórico, já que
navegantes espanhóis, ao chegar nas Antilhas, acreditavam ter chegado nas Índias.
Na realidade o que existe é uma variedade enorme de povos com história e culturas diferentes,
vivendo nesse continente há mais de 20 mil anos.
Ao longo da história do Brasil, os indígenas, isto é, os nativos, sempre foram definidos pela
negação: não têm escrita, não têm religião — “pois não têm templos nem ídolos”, como dizia um jesuíta
na época colonial —, não têm lei, não têm governo, não têm história.
O que antes era visto como ausência ou limitação, vê-se que é simplesmente uma maneira diversa
de ser. Não são piores nem melhores do que nós. São simplesmente diferentes.
Apesar da diversidade cultural, nesse texto vamos abordar as características religiosas que lhes são
comuns ou encontradas em muitos povos do Brasil, privilegiando de certa forma os povos Tupinambá e
Guarani, que foram os que mais marcaram nossa cultura brasileira e nossa religiosidade popular, por
terem sido os povos com os quais convivemos por mais tempo.
O PROFUNDO SENTIDO DE DEUS
A ideia de Deus perpassa todas as religiões indígenas. Muitos desses povos têm a noção de um
Deus criador, mas de um Deus que cria e, em seguida, se afasta, intervindo no mundo através de
entidades espirituais ou heróis civilizadores, isto é, humanos com grandes poderes.
Outras vezes esse
herói é também o ancestral de um povo.
Para os Tupinambá, povo que ocupou grandes áreas da costa brasileira, Deus criador era chamado
de Monã, que significa o ancião. Criou o céu, a terra, e tudo o que existe. Devido à maldade dos homens
destruiu essa primeira terra pelo fogo.
Houve apenas um sobrevivente, Maíra Mona, que pediu que a restaurasse.
Uma grande chuva
apagou o incêndio, surgindo aí uma nova terra. Um conflito entre dois irmãos – Tamoindaré e Arikuté,
descendentes de Maíra Monã – desencadeou uma grande catástrofe, um dilúvio, que destruiu novamente
a terra.
Salvaram-se apenas esses dois irmãos, com suas esposas, porque conseguiram subir em cima de
uma palmeira e de um jenipapeiro. De Tamandaré descendem os Tupinambá e de Arikuté, descendem os
Temiminó e isso explica porque até hoje são inimigos.
Os Guarani chamam a Deus pelo nome de Nhanderu, o nosso primeiro pai. Foi ele quem dispersou
as trevas primordiais com a luz de sua sabedoria. Criou o mundo, colocando-o sobre as trevas cruzadas,
que por sua vez são apoiadas sobre quatro palmeiras. No dia em que essas palmeiras desabarem, será o
fim do mundo material.
O presente mundo é apenas uma cópia ou sombra do verdadeiro mundo, que fica no Além. Por isso
todo o empenho dos Guarani é alcançar o Yvy mara’ ei, a Terra sem Mal, onde as pessoas não
envelhecem, onde não é preciso trabalhar, onde a caça já vem aos pés do caçador e onde não há
sofrimento nem morte.
Muitas outras sociedades indígenas não possuem a ideia de um Deus criador, como é o caso do
povo Xavante e dos povos de língua jê. Seus mitos de origem começam com o mundo já criado, havendo
demiurgos que vão amparar e proteger os humanos.
Entre outros povos há um mundo povoado por diferentes categorias de seres, com poderes muito
diferenciados, que trazem benefícios e malefícios aos humanos.
O SAGRADO E O PROFANO
No universo indígena não há separação entre o sagrado e o profano. Tudo é sagrado: a natureza, a
vida e a morte.
A doença não é vista como algo físico, corpóreo, mas consequência de um malefício espiritual
praticado por alguém.
É o que chamamos de feitiço e que pode ser controlado pelo pajé. O feitiço existiu
entre todos os povos da antiguidade e ainda existe em muitas culturas. Entre os Guarani é chamado de
mohã vai.
Pode ser provocado por diversas maneiras como restos de comida, objetos pessoais ou elementos
ou adornos do corpo, como um fio de cabelo ou uma peça de roupa.
Há casos em que a última pessoa
que tenha visitado um doente e este venha a falecer, possa ser acusada de provocar aquela morte.
Para combater o feitiço há rezas fortes, que entre os Guarani são chamadas nheengaraí.
Quando um pajé não consegue tirar um feitiço ou evitar a morte de alguém, é considerado
incompetente, podendo mesmo ser responsabilizado por aquela morte. Nesse caso ele precisa mudar de
aldeia para não ser perseguido ou desmoralizado ou até morto.
Essa união entre o sagrado e o profano faz com que todas as ações precisem ser iniciadas com uma
oração ou um sinal religioso. Por isso o Guarani reza antes de entrar na mata para caçar; reza para pedir
a benção dos grãos, que serão plantados; reza para abençoar a erva mate, usada no chimarrão; reza
antes de viajar, reza antes de fazer uma fala, pedindo que Deus o inspire para dizer apenas as coisas
boas; reza enfim sempre e em todo lugar.
Para os Guarani não havia canto profano. Todo canto era sagrado, fruto de uma inspiração divina,
recebido geralmente através do sonho.
Hoje, com a comercialização da cultura, começaram a fazer cantos
profanos, como os gravados em CDs para serem comercializados, não sem protestos dos mais velhos.
O brasileiro deve ter herdado do indígenas esse hábito de colocar o nome de Deus e de Jesus em
muitos locais, ditos “profanos”, como na frente ou no para-choque do caminhão, em muros e outdoor.
Não é de se admirar que após uma vitória numa partida internacional de futebol, vamos presenciar
jogadores brasileiros, de joelhos, de mãos dadas, rezarem o pai-nosso. Ou dizer com muita frequência “se
Deus quiser”, embora seja também uma recomendação do Alcorão, trazidas por nossos antepassados
portugueses.
Texto extraído da Revista Uniclar – Ano IX – Número 1 – Edição Comemorativa dos 10 anos do Curso
“Ciências da Religião” das Faculdades Integradas Claretianas – Unidade São Paulo – Brasil.
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