Exu Vazio Absoluto e Oxalá Espaço Infinito
Exu Vazio Absoluto e Oxalá Espaço Infinito
por Rubens Saraceni
Muitos têm Exu como o primeiro Orixá gerado, que, por isso, tem a primazia no culto.
Essa primazia se justifica se entendermos a criação como um encadeamento de ações divinas
destinadas à criação do Universo e dos meios para que os seres pudessem evoluir.
Nós aprendemos que dois corpos não ocupam o mesmo “espaço” e, a partir daí, deduzimos que,
para haver o espaço, tinha que haver algo em outro estado que permitiu a criação de uma base
estável para que, aí sim, tudo pudesse ser criado.
Esse estado é o de “vazio”, pois, só não havendo
nada dentro dele, algo poderia ser criado e concretizado, mas como outro estado. Então, unindo o
primeiro Orixá (Exu) e o primeiro estado da criação (o vazio absoluto), temos a fundamentação do
Mistério Exu.
O Mistério Exu é em si o “vazio absoluto” existente no exterior de Deus e guarda-o em si, dando-lhe a existência e sustentação para que, a partir desse estado, tudo o que é criado tenha seu lugar na
criação.
Por ser Exu o guardião do vazio absoluto, e este ter sido o primeiro estado da criação manifestado
por Deus, então Exu é, de fato, o primeiro Orixá manifestado por Ele.
Logo, Exu é o primeiro Orixá, o mais velho de todos, o primeiro a ser cultuado.
Por ser e trazer
em si o vazio absoluto, tem que ser invocado e oferendado em primeiro lugar e deve ser “despachado”
de dentro do templo e firmado no seu exterior para que um culto possa ser realizado, pois, se assim
não for feito, a presença de Exu dentro dele implica a ausência de todos os outros Orixás, já que seu
estado é o do “vazio absoluto”. Porque junto com o Orixá Exu vem o vazio absoluto, os seus
interpretes religiosos deduziram corretamente que, nesse estado de vazio, não é possível fazermos
nada.
Logo, o ato de invocar o Orixá Exu em primeiro lugar é correto, porque, antes de Olorum
manifestar os outros Orixás, manifestou-o e criou o vazio absoluto à sua volta.
O ato de oferendá-lo
antes dos outros Orixás está fundamentado nessa sua primazia, pois não se oferenda primeiro ao
segundo Orixá manifestado, e sim ao primeiro.
O ato de despachá-lo para fora do templo fundamenta-se no fato de que, se ele está presente
dentro do templo, com ele está o seu “vazio absoluto”, no qual nada existe. Então, é preciso despachá-lo e assentá-lo no exterior do templo, para que outro estado se estabeleça e permita que tudo
aconteça.
Avançando um pouco mais na interpretação das necessidades primordiais para que tudo pudesse
ser “exteriorizado” por Deus, como no “vazio absoluto” (Exu) não havia como se sustentar em alguma
coisa, eis que, após esse primeiro estado da criação, Olorum manifestou o seu segundo estado: o
“estado do espaço”!
• O vazio absoluto é a ausência de algo.
• O espaço é a presença de um estado.
Deus criou o espaço “em cima” do vazio absoluto. Logo, se antes só havia o vazio absoluto, o
espaço foi criado dentro dele, e, à medida que o espaço foi se ampliando, o vazio absoluto foi distendendo-se ao infinito para abrigá-lo e permitir-lhe ampliar-se cada vez mais, de acordo com as
necessidades da mente criadora de Olorum.
Aqui, já entramos na genealogia (no nascimento) dos Orixás e em uma teogonia a partir dos
estados da criação.
Esse segundo estado (o espaço) dentro do primeiro (o vazio absoluto) criou uma base que se
amplia segundo as necessidades do Criador e começa a nos mostrar os Orixás como estados da criação,
pois se Exu é o vazio absoluto, o Orixá que é em si o espaço se chama Oxalá.
Sim, Oxalá é o espaço infinito porque é capaz de conter todas as criações da mente divina do
nosso Divino Criador.
Porém, o que nos levou à conclusão de que Oxalá é em si o mistério do “espaço infinito”?
Ora, o
mito revela-nos que Olorum confiou-lhe a função de sair do seu interior e começar a criar os mundos e
os seres que os habitariam.
Como algo só pode ser criado se houver um espaço onde possa ser “acomodado” e antes só havia o
“vazio absoluto” à volta de Olorum, assim que Oxalá saiu (foi manifestado), com ele saiu seu estado (o
espaço infinito), que se expandiu ao infinito dentro do vazio.
O espaço não é maior ou menor que o vazio, porque são estados, mas ambos são bem definidos:
• o vazio absoluto é o estado de ausência de qualquer coisa (o vazio).
• o espaço infinito é o estado de presença de alguma coisa (a ocupação).
Como Olorum tem em si tudo, e tudo ocupa um lugar no espaço, então Oxalá, como estado
preexistente em Olorum, já existia no seu interior. E, como a mente criadora de Olorum ocupa um
espaço, este era Oxalá, pois foi a Oxalá que Ele confiou a missão de criar os mundos e povoá-los com
os seres que seriam criados.
Logo, Oxalá traz em si esse estado de espaço infinito que pode abrigar nele tudo o que for criado
pela mente de Olorum. Portanto, Oxalá também traz em si o poder criador, pois, se não o trouxesse
em si, não poderia da existência no espaço infinito ao que só existia na mente criadora de Olorum.
O vazio absoluto é um estado e não algo mensurável. O espaço infinito, ainda que não seja
mensurável, é a existência de algo. E, como se esse algo denominado “espaço infinito” se abriu e
expandiu-se dentro do vazio absoluto, criaram-se dois estados opostos complementares:
• O vazio absoluto
• O espaço infinito
Exu e Oxalá são ligados umbilicalmente por causa desses dois primeiros estados da criação.
Exu é
o vazio exterior de Olorum, e Oxalá, o seu espaço exteriorizado.
Exu é a ausência, e Oxalá é a
presença.
Em Exu nada subsiste, e em Oxalá tudo adquire existência.
Exu, por ser o vazio absoluto, nada cria em si. Em Oxalá, por ele ser o espaço em si mesmo, tudo
pode ser criado.
Exu e Oxalá são opostos complementares porque sem a existência do vazio absoluto o espaço não
poderia se expandir ao infinito.
Como ambos são estados, não são antagônicos, pois onde um está
presente, o outro está ausente.
O vazio absoluto é anterior ao espaço infinito.
E, porque é anterior,
Exu é o primeiro Orixá manifestado por Olorum e detém a primazia. E, se tudo preexistia em Olorum,
ainda que não fosse internamente o Orixá mais velho é, no entanto, o primeiro a existir no seu
exterior.
Texto extraído do livro “Orixá Exu” de Rubens Saraceni, Editora Madras
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