BATISMO DE CRIANÇAS na Umbanda
BATISMO DE CRIANÇAS
Por Pai Ronaldo Linares
O batismo de uma criança no ritual umbandista difere em sua essência daquele que é realizado no ritual católico, pois neste a cerimônia do batismo é parte de um exorcismo em que o sacerdote expulsa o demônio que habita a criança em consequência do pecado original (herança bíblica de Adão e Eva e do relacionamento íntimo dos pais da criança).
Na Umbanda não se aceita absolutamente que a criança possa já nascer em estado de pecado; o batismo simboliza a apresentação aos irmãos em Oxalá do jovem recém-nascido, bem como sua aceitação na fraternidade.
O sacerdote invocará as bênçãos de Deus para essa criança, e um casal de irmãos deverá assumir, diante do altar de Deus, o compromisso de que na ausência dos pais da criança estes ampará-la-ão como se fora seu próprio filho.
DESCRIÇÃO DO RITUAL (exemplo)
Faz-se a abertura normal dos trabalhos, e quando chega o momento das incorporações o pai espiritual solicita que sejam trazidos ante o altar a criança, seus pais e os padrinhos.
Antes de dar início à cerimônia, dirige algumas palavras ao público presente, explicando os porquês da cerimônia, visto ser muito comum em tal caso a presença de convidados curiosos, não-umbandistas, mas parentes ou amigos dos pais da criança, e estes devem ser esclarecidos para não somente verem o ritual, mas inteirarem-se de seu profundo significado esotérico e humanístico.
O pai espiritual oficiante da cerimônia estará de frente para o público e de costas para o altar; os participantes estarão de costas para o público e de frente para o altar e para o pai espiritual; a criança deverá vestir uma roupa prática e fácil de manusear e estará nos braços da madrinha.
Ao lado direito da madrinha ficará o padrinho, sustentando uma vela de batismo (a vela representa a luz divina, a presença do espírito de Deus e é consagrada a Ifá, (o Espírito Santo); ao lado esquerdo da madrinha ficará a mãe da criança e ao lado desta, o pai.
Dando início à cerimônia, o pai espiritual tomará a banha de Ori (também chamada limo da costa), uma substância gordurosa, extraída da glândula suprarrenal do cordeiro, e traçará com ela o símbolo da Umbanda (dois triângulos entrelaçados) três vezes na fronte da criança, proferindo as seguintes palavras:
“ Ao ungir tua fronte com o Ori sagrado, eu te consagro a Deus segundo a lei da Umbanda por Olorum, por Oxalá e por Ifá”.
Desta forma, o sacerdote umbandista estará rogando a proteção de Deus e dos Orixás para o batizando. A cerimônia tem prosseguimento quando a madrinha vira a criança, descobrindo sua nuca e pescoço, e na vértebra cervical mais saliente (a que leva o nome proeminente, ponto de encontro dos feixes nervosos que descem do cérebro e chacra da maior importância) o pai espiritual repetirá a cerimônia. Voltando a criança à posição normal, a mãe deve abrir sua roupa no peito para que mais uma vez o pai espiritual possa cruzá-la, da mesma forma que o realizado anteriormente.
Exclui-se o cerimonial das mãos da criança, pois esta é uma atitude que a criança tomará mais tarde, quando souber discernir se deseja ou não prosseguir seu caminho na seara umbandista. Dando sequência à cerimônia, o pai espiritual utiliza a pemba em pó, preparada especialmente para esse fim. Tomando nas mãos o recipiente onde deverá estar a pemba, repetirá todo o ritual usado durante a primeira parte com a banha trocando apenas os dizeres, que passarão a ser:
“Com a pemba, eu te consagro a Olorum, Oxalá e Ifá”.
A cerimônia prossegue com a unção do sal, que obedece ainda à mesma ritualística, sendo que ao final deposita-se um pouquinho (uma pitada) de sal também na boca da criança dizendo-lhe:
“Receba o sal da terra, você que não passa de um punhado de terra revivida pela vontade de Deus”.
Usa-se normalmente sal refinado em lugar do sal grosso, pois sendo muito delicada a pele do bebê, o sal grosso poderia feri-la; também pode-se pilar e peneirar em peneira fina o sal grosso, com o mesmo resultado. Ao terminar esta parte do ritual, o padrinho toca com uma das mãos o peito da criança e com a outra continua segurando a vela, enquanto a madrinha segue segurando a criança em seus braços.
O pai espiritual, neste instante, chama a atenção dos padrinhos para a importância do ato solene e da responsabilidade que se seguirá, pedindo-lhes que repitam cada uma das suas palavras, assumindo perante o altar de Deus suas responsabilidades para com o batizando. Diz o sacerdote:
“Eu (e cada um dos padrinhos repete seu próprio nome por extenso) recebo-te (dizem o nome da criança) na falta ou ausência de teus pais, como se fora meu próprio filho, prometendo alimentar-te, educar-te, orientar-te e amar-te, encaminhando-te dentro dos ensinamentos de nossa crença no amor a Deus e aos Orixás por Olorum, por Oxalá e por Ifá”.
A seguir, cada um dos padrinhos repete o seu próprio nome e diz: “Eu juro”. Naturalmente, não é de forma alguma necessário que as palavras sejam repetidas exatamente nesta ordem; basta que a ideia do que exprimem não seja alterada. A seguir, o pai espiritual coloca na palma da mão do padrinho uma pitada de pemba, e este deverá dizer à criança:
“Em nome de Deus eu te recebo e abençôo”.
Em seguida soprará a pemba sobre a criança. O mesmo farão a madrinha, o pai e a mãe da criança e também o pai espiritual, que dirá:
“ Em nome de Deus, eu te consagro e abençoo”.
Esta parte do ritual lembra o sopro divino, que teria dado origem ao primeiro homem, ou melhor, à dependência divina do próprio homem. A seguir, um Ogã pede ao pai da criança que segure sob a cabeça dela uma pequena bacia de louça, passa para o pai espiritual a concha de batismo e a enche com água pura. Tomando a concha, o pai espiritual dirá:
“ Com a água que mantém a vida, eu lavo de sua cabeça toda e qualquer impureza ou negatividade, por Olorum, por Oxalá e por Ifá”.
Após esta cerimônia, o Ogã, auxiliado pela mãe ou pela madrinha da criança, enxuga a cabeça dela. Os utensílios sagrados voltam ao congá.
O pai espiritual cumprimenta todos, felicita-os e lembra-os da grande responsabilidade assumida ante o altar de Deus. Em seguida, será iniciado o cântico que chamará uma ou mais entidades espirituais para que do espaço tragam suas vibrações positivas para o batizando e demais participantes, sendo de livre escolha dos pais da criança as entidades que serão chamadas, as quais não deverão ser mais que duas ou três.
Também não é obrigatório que a entidade incorporante seja do pai ou da mãe espiritual do templo; poderá ser perfeitamente de qualquer médium da casa, incluindo-se os pais ou padrinhos da criança.
Após a cerimônia, o padrinho apagará a vela e a entregará á mãe da criança, que deverá acendê-la e orar diante da chama sagrada, quando houver qualquer dificuldade experimentada pela criança, pois a referida vela foi consagrada a Ifá – o Espírito Santo.
LINARES, Ronaldo – Iniciação à Umbanda — Madras Editora –
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