Belezas de Oxum
Belezas de Oxum
por Fernando Sepe
No meio da oração ela surgiu radiante e esplendorosa. Suas roupas douradas lembravam-me o nascer do Astro Rei.
Sim, a Mamãezinha do Amor passou por aqui e me convidou a dançar junto dela.
Em sua dança cadenciada, o ritmo e o axé do belo fluir dos rios. Em seu canto, a beleza que não se entende, mas se sente, aos pés de uma cachoeira. E então, meu coração expandiu-se na vibração dessa Mãe e a rosa da compaixão desabrochou.
Compaixão pelo mundo.
Os homens e mulheres não sabem, mas Oxum canta e dança o tempo todo, e é por isso que a vida é tão cheia de encantos. Ela é a senhora da beleza e da formosura, do carinho e do alento, da felicidade íntima.
Ah, se a humanidade visse, mesmo que uma única vez, as belezas de Oxum, tudo mudaria. Pois as ondas de amor que brotam dessa Mãe tudo podem mudar...
Menina doce, que anima os brilhos dos olhos das crianças. Chama dourada, que infla o amor entre os casais. Mãezinha boa, que chora as dores de seus filhos e por eles enche de rosas os caminhos...
Em seu corpo, vejo o bálsamo para as dores do mundo. Em seus olhos, a esperança do nascer de um novo dia. Em seu abebê, o símbolo de seu poder. Em suas joias e brincos, toda beleza do Universo. Em seu coração, o amor que dissolve os mais pesados climas de ódio e vingança. Em sua boca, o canto da paz espiritual de Oxalá.
Aspecto amoroso da Mãe Divina, aspecto que concebe.
Útero gestador do cosmos, eterna dança criadora. Encontro entre o macho-fêmea que procria. Mãezinha Cinda, que flui nas águas doces do planeta. Mãezinha do ouro espiritual. Senhora dos tesouros imperecíveis do espírito. Menina do pingo d’água que refresca a alma.
Belezas de Oxum... Ah, tantas são suas qualidades e mistérios que meus olhos não podem a tudo contemplar. Assim como a linha do horizonte, e a imensidão do firmamento, Tu És infinita em Si.
Quantos mundos residem em Teu ventre, Mãe? Quantas vidas a testemunhar-se dos seus olhos? Quantas estrelas ainda brotarão de Teus belos lábios? Cada palavra de Olorum faz surgir um Orixá. E foi em um canto misericordioso e bondoso que o Pai-Mãe da Criação manifestou-Te.
Desse dia, pouco se sabe, mas o coração do poeta sente, que então o primeiro sorriso foi dado e as belas palavras de amor surgiram. A poesia estava inventada e a música finalmente seria tocada.
Juras de carinho eterno cobririam o mundo, e a singela voz de um colibri a todos encantaria. Pois é Ela, Oxum, quem inspira a linguagem do coração. E apenas por Ela, tudo isso pode existir...
Aye yê, eram as palavras que os antigos yorubanos utilizavam para saudar-Te. Foram as pretas-velhas quem preservaram e trouxeram a tradição. Foram as Caboclas que levaram sua presença a todos os templos. Foram as Pombas-giras que nos ensinaram seus mistérios. E foi na linha das crianças que a mais bela de suas flores desabrochou.
Ah, Mamãe do manto dourado. Cobre de bênçãos esse planeta. Nem todos ainda Te conhecem, mas Tu, ó bela Cinda, resides em todos.
Nem todos Te amam, mas Tu, Ó Oxum, a todos ama. Nem todos Te prestam culto, mas Tu, Ó Apará, protege todos que têm coração puro.
E é por isso que os animais te amam, e as flores e árvores prestam-te culto no silêncio. Nem todos podem escutar teu canto, ó Mãe, mas o planeta escuta e por ele continua a viver.
Cinda, Oxum, Menina ou Mamãe... Nascida das juras de amor que Olorum fez à Criação. Por favor, nunca deixe de encantar e cobrir essa Terra de Orixá com a sagrada benção de suas belezas...
Ayeyê, Mamãe... Ayeyê, Oxum!
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