Jurema - Árvore símbolo do Catimbó

 





O símbolo do catimbó é a árvore Jurema.

Símbolo de força, energia e poder Divino.

Da árvore Jurema se retiram sementes para consagrar os seus Discípulos, troncos para levantar no mundo material representações dos Mestres do além.

Da folha, sumo para atrair coragem.

A casca da árvore serve para banhos de descarrego.

A raiz serve para preparar a bebida que possibilita o transe sagrado.

OS "CINCO" CAMINHOS QUE A JUREMA TEM

A Jurema Preta (Mimosa hostilis) é uma árvore da família das Acácias de grande importância para o Juremeiro.

Essa espécie traz toda a fundamentação para este culto de origem xamânica nordestina que cada vez mais tem tomado forma de religião.

Dentro da pajelança sua importância estava no vinho retirado de suas raízes que contém um princípio psicoativo que uma vez ritualizado e bebido abriam-se portais para o mundo dos Encantos e da Ciência espiritual soprada pelos seres dos invisíveis.

Essa ritualização elevou essa espécie de acácia ao status de sagrada, onde cada parte dela representa um caminho.

Essa noção chegou as mesas de Senhores Mestres onde a Jurema é empregada em muitas funções terapêuticas.
Cada compartimento da árvore Jurema são caminhos e moradias de espíritos que representam toda a prática do culto.

Esses compartimentos ou partes tem seus elementos místicos e espirituais usados pelo Juremeiro em trabalhos.

A árvore se divide em cinco caminhos, que vão da raiz às sementes.
1) A raiz
2) O tronco
3) As folhas
4) As flores
5) As sementes
"Subi por um suspiro, desci por um fio de ouro, abrindo nossos trabalhos, guardando em um tesouro."
É preciso passar pela provação para voltar fortalecido, coroado de êxito e se responsabilizar pelos trabalhos da Jurema que são aguardados como um tesouro.
O trabalho da Jurema ninguém pode saber (os leigos e curiosos), é como trabalho da abelha, trabalha e ninguém vê.
Se diz que para entrar na Ciência Sagrada do Juremá, a pessoa primeiro desce aos porões onde se depara com a escuridão.

Mestres de esquerda, hábeis em saberem quais as intenções de quem quer adentrar nos mistérios, lá estão a espera.

É na raiz onde vamos encontrar a purificação e os espíritos mais pesados, os "capangueiros" os "Mestres Quimbandeiros e/ou Esquerdeiros",

... Por um suspiro a pessoa emerge para os invisíveis. ESTE É O PRIMEIRO CAMINHO.
Através do suspiro ela chega ao tronco da Jurema. Aí é onde ela se fortalece.

Os Mestres que aí estão ligados são aqueles que vêm para trabalhar na mesa do Juremá. São fortes, verdadeiros, às vezes, brincalhões, noutras vezes, rígidos. Eles sabem exatamente a missão que carregam perante aqueles que vêm buscar socorro dos Encantos. Eles também sabem e reverenciam o que sustenta a Jurema, a raiz. É lá que está a Senhora Rainha.
Lenda da Jurema
Conta-se que um bravo guerreiro Tabajara, chamado Abaturuna se apaixonou perdidamente por uma jovem e bela índia chamada Yurema.

A chamavam assim porque ela era arredia e sempre amarga e não fazia amizades com ninguém. Ela foi encontrada na mata, bebê, por um grande Pajé Tabajara.

Era de uma beleza ímpar, branca como a lua, olhos e cabelos negros como a noite. Cedo ela revelou muitos dons; conseguia viajar no pensamento, visitava as aldeias do mundo invisível, falava com os Espíritos Encantados nas matas e com os antigos Deuses.

A seu pedido, seu pai adotivo fez uma oca para ela morar sozinha, assim ela poderia se dedicar a sua arte mágica, curando doenças, picadas de animais peçonhentos, ferimentos, doenças de espíritos, etc.

O jovem guerreiro a amava em silêncio. Não ousava se aproximar porque ela era sempre reservada e isolada. Ela sabia do amor que ele nutria, ela também o amava, mas sabia que esse amor nunca poderia ser cumprido.

Yurema era filha de Jaci a lua com um índio e para fugir da ira de Coaraci, seu marido, ela a deixou na mata para que fosse criada pelos índios. Por isso que Yurema tinha tantos poderes, por ser filha de uma Deusa.

Um dia Abaturuna sentindo que nunca iria realizar seu amor, resolveu partir desse mundo. Rumou para a mata sem suas armas disposto a morrer.

Yurema sentiu o que ia acontecer e foi atrás dele. Encontrou-o triste esperando a morte chegar. Ela se encheu de coragem e revelou que também sentia um grande amor por ele. Nesse momento se entregaram um ao outro vencidos pelo amor que sentiam.

Do céu Coaraci então descobriu o fruto da traição de Jaci e partiu para mata-la. Desesperada Jaci implorou a Tupã que a ajudasse. Tupã compadecido a transformou numa raiz que fez surgir uma bela árvore, a Jurema.

Seu jovem e valente amor virou os galhos espinhentos para que Coaraci não pudesse atingi-la e assim Yurema ficou protegida e guardada e continua revelando os mistérios dos invisíveis a quem bebe de seu licor, a dona da Ciência do Juremá.
(Marcelo Galvão) Lenda ouvida do meu Padrinho Reinaldo Ribeiro dos Santo.

O Jurema Encantada, que nasceu de frio chão. Dai-me força e Ciência, como deste a Salomão. ESTE É O SEGUNDO CAMINHO.
Do tronco da Jurema, saem os galhos, que abrigam as folhas em meio aos espinhos. Eis o lugar de domínio das Mestras. Elas não trabalham com a força. Trabalham com a persistência e com a paciência em meio às adversidades; são hábeis em usar o poder feminino para atingirem seus objetivos.

Elas mantém a árvore em pé porque sabem se dobrar ao vento, a chuva e a seca.

Elas murcham as folhas em tempo de muito calor e seca para que a Ciência volte para o tronco e raiz. Por essa capacidade são conhecidas como as Donas do Trono.

Os banhos e mirongas feitos das folhas e das cascas são um atributo delas. Elas que devem ser evocadas nesta hora.

Existem Mestras especialistas em várias problemáticas dos seres humanos, como parto, cura de doenças crônicas, perturbações espirituais e mentais, casamentos fracassados, desempregos, desmanche de magia contrária, etc. São as Mestras com a sua capacidade de conquista que adoram o Cruzeiro Mestre Divino. ESTE É O TERCEIRO CAMINHO.
A Jurema brota da terra seca com muita força e poder e essa força e esse poder quando mal utilizados, levam a uma série de perturbações.

Diziam os antigos que a medida do querer nunca se enche.

O poder corrompe, desvirtua o caráter e leva a uma ambição desmedida e em alguns casos até criminosa.

A Ciência da Jurema é tão maravilhosa que nos deu o equilíbrio.

O equilíbrio da Jurema são as Princesas.

Elas são comandadas pela flor da Jurema.

São representadas por taças translúcidas com água cristalina.

São os Espíritos mais puros da jurema.

Bom fazer um lembrete de que existem Mestras que são elevadas a categoria de Princesas, mas por outros motivos.
Ao lado delas, mas soltos da flor, estão os príncipes que transportam a Ciência para outros Discípulos ou para novas árvores que vão ser semeadas.

Um não existe sem o outro, porque senão a Ciência não se multiplicaria.

São representados por copos também translúcidos e de água cristalina.

Os Príncipes são os que abrem a vidência para as Princesas predizerem a situação dos consulentes para quem trabalha com esse tipo de oráculo.
Eles e elas são inúmeros e cada Juremeiro os representa de acordo com suas Ciências recebidas. ESTE É O QUARTO CAMINHO.
Da floração da Jurema vem a vagem carregada de sementes. Aí se encontram os Espíritos mais antigos da Jurema, conhecidos como Reis e Rainhas.

Este título que os Juremeiros dão é pelo poder e autoridade que a semente da Jurema tem de ensimentar, consagrar e coroar um Discípulo, unindo-o com a Mestria.

Sabemos que uma pessoa para trabalhar com um Mestre não precisa ser consagrada, mas quando ela é consagrada, fica protegida de espíritos embusteiros, mistificadores, que não são da família espiritual dele, fechando uma corrente para que ele não receba uma infinidade de Mestres e Caboclos e outras Entidades.

O Consagrado, passa a fazer parte de uma corrente ancestral que o liberta de espíritos de mortos. O Consagrado não morre, se encanta, na Ciência. ESTE É O QUINTO CAMINHO.
Por setenta anos pelejamos na Jurema para que nos dominemos sem ninguém nos dominar.
Acima no céu é Deus,
Em cima da terra o Mestre,
No meio as águas que tudo cortam,
Na força do pensamento,
Vai pra Jurema Jandaia,
Todo mal que se corta é com a fumaça.
Discípulo Mestre Jaguar - Marcelo Galvão
"Seu Marcelo, na Jurema tudo se aproveita, da raiz até as sementes.
Sr. Geraldo Guedes
(*) a base para formação deste texto foi uma abençoada conversa com um dos Grandes Mestre da Jurema, Senhor Geraldo Guedes.

Em 17 de maio de 2009 - Texto de Marcelo Galvão


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