A Umbanda e o Diabo


A Umbanda e o Diabo
por Anna Pon


Acredito que ninguém se torna Umbandista do dia para a noite. Ser Umbandista é um processo, para uns lento, para outros rápido e para alguns outros, trata-se de religião de berço, legado familiar.

Muitos buscam a Umbanda por curiosidade, por ouvir falar que as entidades curam, ajudam a encontrar emprego, amor, etc., mas a partir do momento que pisam num terreiro, algo dentro dessas pessoas muda; uns vão embora para nunca mais voltar e outros se encantam a ponto de desejarem seguir na religião.

Há ainda os que se mantem numa atitude de desconfiança e preferem frequentar um tempo antes de decidir se acolhem ou não a Umbanda em seu coração.

Tudo isso é muito normal, acontece com frequência. É natural que pessoas que não conhecem a religião, se sintam desconfiadas, curiosas e passem a observar o comportamento de todos na gira.

São muitos gestos, sons, aromas. No começo tudo isso confunde, mas a grande confusão mesmo fica por conta da linha de esquerda, quando chega a vez de conhecer essa linha de trabalho, a confusão, na mente das pessoas, é grande, começando pelos nomes de alguns Exus e Pombas Giras, até suas sonoras gargalhadas. Em alguns causa até medo, espanto.

A falta de conhecimento e uma relação mais próxima com a religião, que ajude a desmistificar pontos sensíveis, é que gera a confusão. Muita gente ainda acredita que Exu é o diabo, porém, na Umbanda, esse conceito não existe. Para nós o diabo não existe. Acreditamos que o mal e o bem estão dentro de cada um de nós e um se sobressai ao outro dependendo de qual dos dois alimentamos mais.

Outro conceito que não existe na Umbanda é o de inferno. Acreditamos que tanto o "céu" quanto o "inferno" são estados de consciência, tem a ver com os pensamentos que alimentamos, de como agimos e reagimos diante dos desafios da vida, de quanto bem, ou mal, fazemos a nós mesmos e aos outros.

Sabemos que a diversidade de ritos e de proximidades com outras religiões também gera confusão, muito embora a Umbanda tenha seus fundamentos, características próprias que a distinguem de outras religiões, mas cada casa de Umbanda tem sua prática própria, sua maneira de trabalhar que tem muito a ver com a ancestralidade de seu fundador/dirigente e essas diferenças acabam por confundir os leigos/novatos.

Muitos confundem Umbanda com Quimbanda, com Candomblé entre outras porque aos olhos do leigo/novato, tudo é muito parecido, porém, há muitas diferenças, é só se dispor a conhecer um pouquinho, perguntar, estudar, sempre filtrando as informações, usando seu raciocínio, sua intuição, dessa forma não haverá erro e a pessoa encontrará exatamente a casa mais adequada à sua maneira de ser e sentir o Sagrado.

É certo que o catolicismo exerce grande influência sobre alguns terreiros e no mental coletivo dos brasileiros, afinal tem muitos adeptos/simpatizantes, é muito antiga, influente, ser católico, de alguma forma traz "segurança", não existe preconceito e se existe, é muito pouco, quase não se percebe, por isso, ser católico é "tranquilo" mesmo para quem é só da boca pra fora, agora, assumir que é Umbandista é complicado, só quem é sabe do que estou falando.

No Catolicismo, “Lúcifer” é o Anjo Caído porque quis ser como Deus e na Quimbanda, que é diferente da Umbanda, algumas entidades se apresentam com esse nome gerando uma série de indagações, medo, questionamentos sobre os quais não posso opinar por se tratar de prática que desconheço. O pouco que sei sobre Quimbanda é teórico, mas cito aqui porque alguns misturam Umbanda com Quimbanda e leigos/novatos, com razão, se espantam e surgem muitas dúvidas a respeito. Creio que chegam a pensar que seria o mesmo anjo do catolicismo, o opositor a Deus, mas não é bem assim.

E por essas e outras Umbandista é perseguido, mal compreendido, taxado de maligno, etc. e tal, tudo gerado pela má informação e pela mescla de doutrinas existentes.

Umbandista sofre preconceito, discriminação e grande parte disso devemos aos charlatões, aos que se valem da boa fé alheia, aos comerciantes ferrenhos da fé, aos que não esclarecem procurando infundir o medo, aos que visam o domínio, o poder sobre os mais fracos. Usam o nome da Umbanda com fins lucrativos, recorrem até a ameaças sem nenhum fundamento e a pessoa, leiga, pode cair nessas armadilhas distribuídas por todos os cantos, principalmente pela internet. É um cenário lamentável que vemos todos os dias, mas cada um faça a sua parte, mesmo porque cada um responderá por seus atos.

Quem quiser conhecer a Umbanda, que o faça de coração aberto, abra sua mente para compreender como funciona o trabalho e quais são os fundamentos da religião, pesquise observando se a fonte é confiável, se traz boas mensagens, esclarecimentos que não gerem medo, que não cobrem pelos atendimentos, que citem as fontes de pesquisa dando chance à conferencia/confirmação daquilo que é exposto e principalmente conheça um terreiro, se informe antes sobre o funcionamento da casa para não ter surpresas e caso a casa escolhida gere algum mal entendido ou desconforto, siga procurando até encontrar a que toque realmente seu coração.

Muita Luz!
Anna Pon


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