Cambone de Umbanda
Gostaria de abordar um trabalho de extrema importância no terreiro que é o de cambone, mas sem deixar de lembrar uma passagem curiosa: quando era pequena, meu pai sempre tinha o costume de desmontar os relógios da casa na intenção de “melhorar seu desempenho”, relógios do tipo à corda, e sempre era a mesma história, ele desmontava, “lubrificava” e montava novamente, mas sempre sobravam peças... e lógico o relógio não funcionava, aí começava a discussão com minha mãe, que argumentava o erro em não saber remontar, e ele dizia que eram peças “dispensáveis”, mas ora, o relógio não funcionava ou então funcionava com problemas.
O trabalho de Umbanda no atendimento ao consulente também funciona como um relógio, que tanto no astral, como na parte material, depende do bom funcionamento de sua engrenagem.
Parte importante, como todas as outras é justamente a do cambone, já tão bem abordada aqui no JUS em outras oportunidades, mas nesta, coloco a visão de um próprio cambone.
Existe toda uma expectativa no início dos trabalhos, cada casa tem seu ritmo, mas o que não muda é aquela adrenalina e ansiedade (benéfica) à espera da linha de trabalho a ser chamada, muitas vezes por tempo de trabalho e por dedicação e afinidade, o cambone se sente um misto de peça importante como um filho de todas as entidades que na casa se manifestam. E, muitas vezes, eu como muitos outros temos esse sentimento, de atenção com tudo, preparar o espaço para a chegada dos Guias Espirituais, pembas, blocos de anotação, velas, charutos, tudo tem de estar a contento, a assistência, ansiosa, tem que ser bem recebida e conduzida aos Guias, todo o trabalho transcorre numa dinâmica de atenção, concentração e doação, dependendo muito do amor e da dedicação de todos, inclusive de nós cambones, aí entra também o sentimento de ser filho de cada um dos Guias espirituais, que com o tempo só de olhar sabem como estamos, como um pai que olha o filho pequeno, os cumprimentos e o abraço de um, a palavra do outro, a “chamada” de um terceiro, e aí a gente vai crescendo como crianças dentro de uma grande família de sábios, anciões, companheiros, pais e mães espirituais, chegando até mesmo a um ponto em que ao meio de inúmeros Guias o cambone ouvir mentalmente o chamado de um ou outro Guia Espiritual mais afinizado com o cambone, solicitando sua presença ali ao seu lado. Isso não tem preço!
Não digo que cada dia de trabalho tem um aprendizado, mas sim, cada atendimento, sendo este ligado a apenas um médium e suas entidades ou como também os cambones que atendem vários médiuns sem ser específico de um só. Muito depende do funcionamento de cada casa, mas o trabalho de ser cambone é uma escola, um aprendizado sem fim, que aos atentos faz aumentar a fé, descobrir e sentir-se amado e especial.
Existem dias em que o cansaço e eventuais dificuldades atrapalham, mas são nesses dias que a espiritualidade te recompensa com um abraço de um pai querido, um ramo de alecrim imantado ou uma rosa para despachar. Enfim, cada gesto dessa grande corrente, não só de pais e mães espirituais, mas como também dos “colegas”, irmãos de trabalho que se ajudam e muitas vezes, sob a coordenação de um guia espiritual, faz o revezamento de descarregos para os mais necessitados da corrente.
Ser cambone é ser importante para o bom funcionamento do trabalho, exige ser atento, concentrado, estudar, aprender e se incorporar à dinâmica de trabalho da Umbanda, estar preparado para todo um esforço físico, mental e espiritual de trabalho e acima de tudo amar a Deus e o que faz.
Hoje, de um modo geral, por todo o trabalho de doutrina, esclarecimento e preparação, nós cambones somos vistos como parte importante da engrenagem de funcionamento de uma casa, mas apelo aos irmãos, colegas de trabalho, que se vejam, não com soberbia na importância do seu trabalho em uma casa, mas como privilegiados e abençoados por tanta generosidade que recebem em cada auxílio às entidades, sem precisar mencionar do auxílio que cada cambone, como o médium de umbanda, recebe de seus próprios amparadores espirituais.
Percebam e internalizem para poderem retransmitir a gratidão, os pequenos gestos de humildade e delicadeza, a generosidade e o trabalho extremamente gratificante e engrandecedor de servir ao Pai, servido a muitos. Se tiverem amor pelo trabalho de cambone, receberão amor enquanto forem membros neste ponto da hierarquia, e no futuro também colherão amor e doarão amor de toda a corrente.
Hoje me despeço desse trabalho, com tristeza por deixá-lo, mas com gratidão por ter sido tão maravilhoso, e rogo que cada dia do novo trabalho seja tão perfeito, tão bom e me traga tanta felicidade como me trouxe ser cambone.
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