A série "O Grande Guerreiro Otomano"
"O Grande Guerreiro Otomano"
Olá leitores do "Umbanda e Espiritualidade - Blog da Anna Pon", tudo bem com vocês? Espero que sim e que sempre encontrem, aqui no blog, o que procuram, seja em termos de estudo, curiosidades ou textos que ajudem a fortalecer a fé e o bem em cada um.
Hoje começo uma abordagem um pouco diferente por aqui, mas sem fugir do assunto espiritualidade.
Sou fã de séries e filmes e ao longo do tempo, por muitas vezes percebi que aprendemos muito com esse tipo de entretenimento, por exemplo: sobre culturas, idiomas, gastronomia, hábitos, crenças, superstições, religiões, enfim, a lista é extensa, mas só depois de encarar uma série longa, bem longa, aliás, foi que resolvi escrever aqui no blog sobre o assunto.
Falo sobre a série da Netflix "O Grande Guerreiro Otomano".
Fui pega de surpresa, no decorrer dessa bela série que tem o Islamismo como religião praticada e vivida por seus personagens, com palavras que eu costumava pensar, não dizer, mas pensar, durante minhas caminhadas pelas ruas arborizadas próximas a minha casa.
Quando ouvi o texto, falado pelo personagem Suleyman Shah, na cena de sua morte, pasmei e pensei: "Como pode? Essas palavras são "minhas", são do meu pensamento e foi nesse momento que resolvi escrever sobre minha experiencia ao acompanhar a série. Acredito que mais adiante falarei de outras séries, além de filmes que, mesmo não abordando a espiritualidade, sempre dão margem para o tema.
Voltando ao assunto. Foi incrível ouvir de um personagem, numa série turca, nada a ver com minha realidade brasileira e origem italiana, palavras que tantas vezes pensei enquanto caminhava.
Nessas horas a gente pensa na forte conexão que temos, espiritualmente falando, com outras culturas, outros caminhos que talvez tenhamos trilhado como espíritos imortais que somos (creio na reencarnação e na vida após a morte) e que, vez ou outra, algo ou alguém, é usado como gatilho para nos fazer lembrar de quem realmente somos, momentos que vivemos e quantos passos demos para construir quem somos hoje e haveremos de ser amanhã.
E as palavras/pensamentos, são esses:
"Sou grato ao Senhor meu Deus, por ter criado toda essa beleza que é a natureza, poder olhar para tudo isso, sentir toda essa beleza que é de sua criação, poder ouvir esses sons, aquece meu coração, agradeço por poder seguir seu caminho pela vida, pela sensibilidade que me permite ver e sentir toda essa beleza."
Não tenho palavras para expressar o encantamento que vivi nesse momento, foi algo muito especial, é claro que voltei a cena algumas vezes, imaginem se não!
Quem assistiu a série sabe que foi uma cena linda com carga emocional forte, enfim...agora sou suspeita para falar sobre!
Quantos ensinamentos numa série que é basicamente violenta, tempos de espada na mão para garantir a segurança, a comida, conquistas de territórios, mas é isso, quando temos olhos de ver e ouvidos de ouvir, extraímos sempre algo de bom em tudo que fazemos, até assistindo séries, reparem bem se não é isso mesmo.
Sou Umbandista, como devem saber, e na Umbanda temos nossos ritos, gestos que para nós tem significado, aliás, cada gesto ou movimento que muitas vezes repetimos, tem sua razão de ser, por exemplo: no momento que colocamos nossas guias (colares) no pescoço, o fazemos obedecendo uma ordem e as encostamos nos lábios, como se as estivéssemos beijando, depois as encostamos na testa, reverenciando a força que está presente na guia porque ela nos conecta com o sagrado. É um material preparado, imantado, cruzado (ou abençoado) pela espiritualidade num ritual simples antes de ser usado, portanto não é um mero fio de contas.
Digo isso porque percebi, logo no começo da série, que os personagens, assim como nós Umbandistas, beijavam objetos sagrados e depois os encostavam na testa, senti afinidade pelo já exposto acima, não apenas afinidade, mas encantamento porque a série se passa na idade média e nós, na Umbanda, ao menos na Umbanda que pratico, ainda temos esse mesmo hábito que pode, ou não, ter tido influencia na religião islâmica como em outra semelhante. Eu, porém, não acredito em coincidências. Se repetimos um gesto tão bonito, profundo e significativo é porque tivemos muitas experiencias no passado e nem mesmo o tempo é capaz de relegar ao esquecimento o movimento que se faz em direção ao que nos é caro e sagrado.
Essas são percepções minhas, eterna aprendiz das questões espirituais, observo tudo e me encanto com essas conexões, semelhanças, influencias que constroem nossa religiosidade, fé e crenças. Pode ser que não esteja sozinha nessas minhas reflexões, por isso registro aqui, para compartilhar e talvez inspirar outras pessoas a refletirem sobre o que consumimos de entretenimento, tanto pode colaborar com nossa evolução e fortalecimento espiritual, como também pode nos levar a labirintos escuros que em nada contribuem com nossa paz, saúde e progresso. Há de se pensar sobre o assunto porque é sério.
Mesmo nessa série, onde encontrei tantas belezas, momentos comoventes e marcantes pela força da fé de alguns personagens, há o lado sombrio, cruel que talvez tenha sido carregado demais pelos seus diretores, roteiristas, enfim...que descortina toda uma prática distorcida da fé que ao invés de gerar o bem, a compaixão e a bondade, inspira repulsa, revolta, tristeza, mas até mesmo isso a série nos permite experimentar, cabe a nós a escolha, a busca pelo autoconhecimento que revela quem de fato nós somos, o que nos encanta e o que nos causa indignação.
É claro que a humanidade caminha a passos lentos rumo à evolução, sabemos que a maldade espreita, que nem tudo é o que parece ser. Dar-se conta de tudo isso numa "simples" série para mim foi uma experiência rica, pena que a Netflix retirou a última temporada do catalogo. Frustrante.
Outra coisa que me chamou muito a atenção, ainda pensando com minha cabeça Umbandista, foi o gesto repetido 3 vezes que os personagens, em algumas situações, realizavam, por exemplo: Beijar e levar a testa objetos sagrados repetindo 3 vezes. Para nós na Umbanda números impares tem sua magia, seu mistério, sempre usamos na maioria de nossas práticas rituais.
Recém nascidos recebiam seus nomes pelo pai, ou por seu padrinho, ai entra o patriarcado que fica muito claro na série, o nome da criança era repetido em seu ouvido três vezes, só então era anunciado para a comunidade, acho isso muito válido, respeitoso e mesmo nos dias atuais, os mais velhos nos contam que assim deve ser, que é a criança que tem de ser a primeira a ouvir seu nome, mas hoje em dia, mal ficam sabendo do sexo de seus filhos e já saem contando, ao vento, o nome, o sexo, até ultrassonografia é compartilhada. Isso não é bom minha gente, pensem bem.
Quanto assunto rende uma série não é mesmo? Confesso que me encantei e reconheci nas práticas antigas dos personagens. Tenho a impressão de familiaridade profunda, ainda mais com as tantas semelhanças, sutis, eu sei, com a minha religião, a Umbanda.
A essas alturas alguém pode pensar: Mas, a Umbanda não é uma religião de matriz africana?
A resposta para essa pergunta é: Sim e não. Para maiores informações, naveguem pelo blog, irão encontrar muitos textos que esclarecem o universo umbandista. Para pincelar a resposta o que posso dizer é que a Umbanda é a união de várias outras religiões, crenças, alguns a praticam conservando mais as influencias africanas, outros menos.
Voltando às curiosidades da série, a mediunidade de alguns personagens fica clara para quem está mais ou menos habituado ao universo espiritual/mediúnico. Algumas cenas são de desdobramento, ou seja, a capacidade que alguns médiuns tem de, em espírito, visitarem outros locais, pode ser bem distante porque a distância não importa ao espirito liberto. Essa foi uma das muitas cenas que me encantou porque transito tranquila por trabalhos assim a muito tempo como médium. É impressionante como algumas coisas não mudam com o tempo, permanecem intactas quando o assunto é espiritualidade.
A série conta a história de Ertugrul, um guerreiro turco do século 13, e é baseada na história da Turquia, mas para mim o que ficou marcado foi o lado espiritual da história, como os personagens se relacionavam com a fé e as muitas semelhanças com as práticas que vivo na Umbanda. Incrível isso, talvez a própria espiritualidade tenha me levado a assistir a série. Isso é absolutamente possível porque, se for, dessa vez não tenha certeza, será a segunda vez que me acontece. A primeira foi a sugestão de um livro que eu nem sabia que existia, mas que a entidade soprou o título, certinho, em meu ouvido. Enfim...histórias da mediunidade.
O personagem Ertugrul lembra muito os filhos de Ogum em suas características: honra, coragem, dignidade, fé, amabilidade, doçura com as crianças, respeito à mãe e aos ancestrais, sendo implacável com inimigos/pessoas cruéis.
Durante a série, todas as vezes que empinava seu lindo cavalo branco, eu me lembrava de São Jorge que no sincretismo é o Orixá Ogum, senhor da guerra que promove a lei e a ordem, ligado ao ferro(metal), confecção de ferramentas, no caso, espadas muitas vezes forjadas com suas próprias mãos, perfeito Ogum ( ao menos para mim) 😉.
Interessante também a crença deles na continuidade da vida após a morte, apesar de não acreditarem em reencarnação, como eu acredito, eles, naquela época, e creio que até hoje, acreditavam na sobrevivência da alma e no reencontro com os entes queridos no além túmulo. Tudo a ver com nossas crenças umbandistas, ou seja, são muitas semelhanças, são muitas afinidades com um tempo tão distante, isso me encanta e marca profundamente e um dos motivos pelos quais me toca tanto é a prova viva de quão dinâmica é nossa religião e de que forma algumas coisas resistem bravamente ao tempo, além de deixar muito claro que a Umbanda traz em suas práticas, influencias de muitas religiões que a maioria de seus adeptos não percebe, não se dá conta que repete práticas muito antigas que não estão limitadas apenas ao continente africano, mas sim ao mundo, à história da fé que anima a humanidade.
Para encerrar, recomendo a série tanto para quem gosta de história, quanto para aqueles que se encantam, como eu, com a fé do outro e percebe, no próximo, muito de si mesmo, seja pelo aspecto positivo ou negativo. São oportunidades de ouro para buscar melhorar nosso íntimo e respeitar sempre a fé alheia.
Curiosidades:
Assisti a séria há um tempo e percebi muito do que vc falou. Lindo demais como as nossas histórias se cruzam.
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