Umbanda ou Umbandas





Umbanda ou Umbandas 


 Já ouviram falar sobre "Umbandas"?

Acredito que sim, mas se não ouviram, ou leram algo a respeito, o termo "Umbandas" se refere à diversidade existente de terreiro para terreiro. Alguns fundamentos não mudam, outros variam bastante, depende da raiz do sacerdote/dirigente, a forma de culto.

Talvez seja mais fácil falar sobre o que não é Umbanda, sobre apropriação indevida do nome da religião para práticas abusivas.

O principal fundamento da Umbanda é a prática da caridade; fazer o bem sem olhar a quem; a todos acolher sem preconceito ou julgamento; manifestar o espírito para a prática da caridade, são as bases, os pilares pelos quais a Umbanda se sustenta, fora isso, todo o cuidado é pouco.

Mesmo com diferenças de terreiro para terreiro, as bases, a essência da prática da religião não pode mudar, ou seja, não se pode praticar o bem e o mal, por exemplo, ao mesmo tempo, não se pode cobrar pelo atendimento numa religião que tem por fundamento principal a prática da caridade, do acolhimento.

Muitos confundem os compromissos assumidos com a casa de Umbanda escolhida, muitas vezes pelo coração, com cobranças abusivas e indevidas; esteja atento: uma coisa nada tem a ver com a outra porque, uma vez aceitos para participar do corpo mediúnico, você não estará apenas na casa para desenvolver seus dons, você deve ter em mente que participará de uma coletividade na qual todos fazem tudo, todos colaboram, financeiramente, com as despesas, todos tem responsabilidade e isso não é cobrar pelo atendimento que o médium incorporado realiza em parceria com as entidades espirituais.

E temos acima mais uma das muitas características da Umbanda sem mencionar as Umbandas e suas diversidades que sabemos, são muitas.

Dizem que é melhor manter o foco, para fins elucidativos, na Umbanda e não nas tantas Umbandas. Pode ser válida a recomendação desde que não nos deixemos confundir ou enganar.

Há quem menospreze o valor de Zélio de Moraes e todos os anos que ele dedicou à religião, valendo-se do argumento que Zélio quis "embranquecer" a Umbanda. Não concordo com quem pensa assim. É muito simples entender porque me posiciono contrária ao argumento, para tanto, e para quem tiver interesse, basta ler, conhecer a história de pai Zélio deixando o julgamento para o senhor da justiça divina, nosso pai Xangô.

E este é mais um fundamento de Umbanda: Não julgar jamais.

Umbanda ou Umbandas, uma é essência, base, pilar, fundamento. A outra é forma, é raiz do sacerdote, sabedoria adquirida por sua experiência particular, o que não altera a base, a essência, nem tampouco invalida as outras práticas e maneiras de realizar o ritual.

Dizem que a Umbanda já existia antes de pai Zélio, mas foi ele, junto da espiritualidade, quem organizou o ritual que, por sua vez, foi alterado tantas vezes quantas se fez necessário e isso é natural porque cada casa tem uma missão e cada sacerdote, vínculos com outras religiões que se adaptam perfeitamente ao ritual de Umbanda, mesmo porque, na Umbanda se manifestam espíritos ligados às mais diversas religiões existentes no planeta, sim, entre eles há desde monges tibetanos até pastores evangélicos, todos adaptados à corrente astral de Umbanda para seguirem praticando o bem, colaborando com a obra de Deus na Terra e fora dela, no plano espiritual.

As religiões que estacionam no tempo e não acompanham a evolução do mundo, tendem a se perder, extinguir. Digo isso porque leio alguns depoimentos, nas redes sociais, de pessoas saudosistas da Umbanda antiga, se é que podemos assim dizer sobre algo que não envelhece, mas sim se aprimora, ajusta. Entendo que as pessoas, algumas, sintam saudades dos tempos que se foram, até ai tudo bem, é natural, mas "apedrejar" o novo e se "encher" de razão já indica que algo não vai bem porque o Umbandista, acima de tudo, é alguém que busca evoluir diariamente, que não julga, mesmo que isso seja bem difícil, o seu semelhante, seu irmão de fé.

Dito isto, se a pessoa escolheu a Umbanda como sua religião e ainda assim menospreza o trabalho alheio, deve, com urgência, rever seus valores, consultar sua consciência. 

Na verdade a compulsão por likes, por ser lido, muitas vezes leva a pessoa a menosprezar a outra e isso talvez seja uma triste constatação desses tempos sombrios, conturbados que estamos vivendo porque grosseria, barraco, ataque, é o que chama a atenção. A necessidade de diminuir o outro é reflexo do complexo de inferioridade dessa gente que se esconde atrás de uma máquina para falar o que quer sem preocupação ou respeito.

Acredito que ninguém pode dizer que conhece, a fundo, a Umbanda e toda a sua história. Talvez haja confusão sobre mediunidade e Umbanda porque as pessoas, mesmo antes do advento de sua anunciação/fundação, por pai Zélio em parceria com o Caboclo das Sete Encruzilhadas, já manifestavam espíritos pelo fenômeno da incorporação realizando curas, benzimentos e aconselhamentos. Essas pessoas seguiam o que a espiritualidade lhes sugeria, mas acredito que algumas interpretavam a sua maneira e de alguma forma, interferiam no processo todo sendo levadas pela vaidade e pelo dinheiro. Os que atacam hoje, incensando a antiga Umbanda, não se dão conta disso porque querem apenas atacar sem pensar que a ação do ser humano é falha, tanto ontem quanto hoje.

Nosso dever é valorizar todos os que nos antecederam na religião pela prática do bem e da empatia, os que realizaram os trabalhos com amor, devoção e fé e não aos que se concentraram em realizar espetáculos noite a dentro muitas vezes tirando o pão de cada dia da boca a fim de adquirir alegorias desnecessárias à prática do bem e da evolução individual e coletiva, hoje o grande objetivo da Umbanda; o autoconhecimento.

Os cursos, giras on line, etc. e tal, causam desconforto, como não poderia deixar de ser, aos que se dedicam de verdade à religião porque muito desse excesso de conteúdo, é vazio, sem base e ainda por cima pode trazer muita complicação para a vida das pessoas que ingenuamente acreditam em tudo o que lhes dizem e prometem. Desperdício de dinheiro é falta grave porque é um recurso para a manutenção da vida, do progresso do mundo, de ajuda mútua, mas o ser humano a muito perdeu de vista esse valor, o compromisso com os recursos que Deus nos concede, portanto, o que muito se vê é o dinheiro comandando a tudo e a todos.

Umbanda ou Umbandas? Ambas não se pode rotular. Há diversidade, mas também a essência que as une, que as liga entre si. Na Umbanda tem Orixá, Jesus Cristo, ensinamentos do espiritismo de Kardec, tem influência das mais variadas religiões espalhadas pelo mundo e das que já foram extintas, mas ainda repercutem no mental (memória) de muitas pessoas.

Na Umbanda tem erva, flor, incenso, vela, reza e canto. Roupa branca símbolo da união de todas as cores, frequências, vibrações. Tem atabaque, palmas, pés descalços, mas dizem que a Umbanda, assim organizada por pai Zélio e pelo Caboclo das Sete Encruzilhas é apropriação da fé popular que já existia e se manifestava. Isso não corresponde à verdade, apesar de que muita gente começou a praticar a Umbanda sem conhecer a história de pai Zélio e todo seu trabalho. A Umbanda caminhou pela oralidade por muito tempo e cada um imprimiu sua opinião, sua maneira de acreditar adicionando elementos de outras religiões e desprezando quem a praticava de forma diferente.

Fica o alerta: Respeito pela diversidade, por aqueles que vieram antes e depois de Pai Zélio, pelos que hoje estão à frente dos terreiros, pelos que buscam, incansavelmente, praticar a caridade sem humilhar ou julgar, sem colocar preço na fé, sem desprezar o trabalho alheio com a desculpa de ser "moderno" ou revelador da verdade que não pertence a ninguém, mas sim é a união do todo, do significado amplo da fé.

Não sou defensora ferrenha de ninguém porque toda a injustiça que percebo, a meu pai Xangô, confiante, eu entrego. Não acredito em quem diz que pai Zélio quis "embranquecer" a Umbanda porque, se assim fosse, não teria sido instrumento para servir aos Caboclos (indígenas) Pretos Velhos (ex escravos), não teria aberto as portas de sua casa para todos, não teria gerado tantos bons frutos que ainda hoje seguem seu exemplo e a doutrina do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Que não se apeguem, esses que os buscam combater, às aparências, às formas que variam de uma encarnação para a outra, mas sim voltem seu olhar para o trabalho realizado, pelos anos dedicados à prática do bem e à organização de uma religião brasileira que desde 1.908 existe e resiste às investidas daqueles que não se cansam de julgar, de desperdiçar seu precioso tempo jogando pedras ao invés de buscar, nas bases, fundamentos, unir o povo de Umbanda respeitando todas as suas formas de culto.

Respeito a todos os médiuns que, com amor e fé, foram e são instrumentos para servir à espiritualidade visando o bem comum.

Anna Pon
09.06.2023

Comentários

  1. Resgatar o passado é válido, mas não podemos nos esquecer que todos somos frutos de nosso tempo. Sim, Zélio contribuiu e ajudou a estruturar a Umbanda moderna - mas como vc msm diz, as práticas que encontramos na religião já existiam há muito tempo, porém praticadas por pessoas marginalizadas e isso era taxado como "macumba", pois era relacionado ao povo negro, aos indígenas, aos ciganos... no entanto, a partir de Zélio e a introdução do espiritismo de Kardec, a classe média branca se interessa pela Umbanda. O embranquecimento diz respeito a esse processo, ao menos é como enxergo, as pessoas só questionam a legitimidade das umbandas africanizadas, dizendo que certas práticas, como o corte, não fazem parte do culto. Hoje já sabemos que a religião foi fortemente influenciada pelas crenças dos povos Bantu e acho que essas influências entram em atrito, como a questão financeira - pq demonizar o dinheiro? Exu é o Orixá do comércio, ele e tantos outros Orixás/entidades lidam com o dinheiro, é vital para todos nós, infelizmente. Precisamos fazer trocas e muitos sacerdotes se dedicam exclusivamente ao culto, não é barato garantir a manutenção de uma casa (óbvio que cobranças absurdas não cabem). Outro ponto é atrelar as entidades a conceitos espíritas de Karma, níveis de evolução... já vi absurdos sobre negros terem sidos escravizados pois erraram no passado, de verdade? É desumano, cruel, vil e muitas outras coisas justificar atrocidades através da Espiritualidade. Dizer que o preto-velho é um "arquétipo", habitado por um ser "evoluído", comumente representado por um europeu... enfim, são muitas questões sensíveis.

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